Deuses e Vazio | Monge Genshô

Deuses e Vazio | Monge Genshô

Pergunta: Se existe a palavra shunya, embora seja do sânscrito, por que usamos vazio?

Monge Genshô: Alguém traduziu. (risos) Eu acho que a tua pergunta é excelente, porque se a gente começasse a dizer “porque nós todos somos manifestação de shunya, porque o que está na base de tudo é shunya”, daqui a pouquinho diriam que nós temos um Deus chamado shunya, e esse é o problema. Certas coisas que se atribuem normalmente a uma divindade universal são assim. Por exemplo, o deus de Spinoza é um deus não interferente, que está por baixo de tudo. Várias outras soluções panteístas são coisas que estão lá, namorando este conceito, só que não queremos cair nele. Então a solução foi não se referir a uma divindade ou qualquer coisa que pudesse dar essa ideia. Mas o que os Sutras dizem é que há um não-nascido, um inominado, um inconcebível, que há algo. Agora, este algo não é uma divindade, não é uma pessoa, não é alguém que tem planos, não é alguém que manda, não é alguém que interfere, não é alguém para quem você possa pedir alguma coisa… É só o inconcebível, o inominado, shunya. Mas não há uma declaração de não-existência de uma base na qual tudo se manifesta, porque se nós disséssemos que não existe uma base, nós cairíamos no niilismo de negar também tudo o que surge sobre essa base. Se eu negar a existência do oceano, terei que negar a existência das ondas. Por isso, a solução que aparece no Sutra do Coração da Sabedoria é: o vazio é forma, a forma é vazio. O vazio nada mais é do que forma, forma nada mais é do que vazio. Shiki Fu I Ku, Ku Fu I Shiki“Ku” é vazio.