Portanto, eliminando-se todas as manifestações, não há vacuidade para surgir. Por isso o famoso sutra do Coração e da Sabedoria diz “forma é vazio e vazio é forma”. Toda vacuidade é forma e toda forma é vacuidade porque a vacuidade só se manifesta assim. Mas cada objeto surge com seus significados por causa de nosso olhar. É nosso olhar que produz os significados que a coisa tem. Sem nosso olhar, as coisas podem existir como manifestações, mas não são nada daquilo que um homem veria.
É como a madeira, que é material de construção para nós, mas para um cupim, é comida. Sendo comida para o cupim, para ele é apenas um manjar, não é material de construção. Para o fogo, alimento de chamas. Para um ecologista, a madeira é um seqüestrador de carbono da atmosfera, e assim por diante, segundo cada olhar. Com o olhar surge o significado do mundo, por isso, podemos dizer que quando morre um homem, morre um universo, ou seja, o universo dele, carregado dos significados que ele atribuía às coisas e seres.
Neste sentido, mesmo que eu pegue esse relógio e diga que para mim ele é diferente do relógio que cada um está vendo, porque ele tem determinadas marcas e significados para mim, pode ser que alguém aqui tenha, alguma vez, recebido um relógio na testa, logo, o relógio terá para ele outro significado. Alguém pode ter recebido um relógio de seu pai falecendo; para essa pessoa, então, o relógio terá um significado outro. Desta forma, um mesmo objeto é construído por nós em seus vários significados, e assim construímos um mundo com nossa mente. Por isso, essa mente construtora do mundo é a mente transformadora do mundo. Essa é a razão de treinarmos a mente, porque essa mente treinada modifica todo o mundo, instantaneamente. Uma mente cheia de compaixão vê um mundo compassivo e digno de compaixão. Uma mente cheia de ódio vê um mundo odioso e raivoso. Não há como escapar.
(continua)