O Primeiro Agregado | Monge Genshô (Parte 4)

O Primeiro Agregado | Monge Genshô (Parte 4)

Quando alguém morre e a gente diz: “morreu, se foi”, mas não, não existe esse “se foi”. Por que não existe esse se foi? Porque todas as energias de impulso dele continuam nesse universo, e todos átomos dele continuam nesse universo. Então o que é que desapareceu? O que é que “se foi”? A ilusão de um eu se foi, mas é como se você desse um nome para uma onda, quando a onda vem você desse o nome Joana. Então a onda Joana vem e quebra na beira da praia, e você diz: “Joana morreu”. Mas todos os átomos de Joana continuam lá, todos os impulsos, toda a energia que movimentou aquela onda continua no universo, tudo continua, as ondas continuam, tem o refluxo da onda e tudo continua. Por isso, o Sutra declara que não há nascimento e nem morte. Na verdade, não há nascimentos e nem mortes, isso é a compreensão do que é a mente infinita. Se você olhar como a mente infinita, da perspectiva do vazio, não há nascimento e nem morte. A única coisa que você pode dizer que desaparece com alguém é a sua ilusão, mas nem um átomo dele desapareceu, nenhum. E assim como não desapareceu nenhum átomo, também não desapareceu nenhum impulso, porque toda a energia no universo é constante, ela só se transforma, ela só prossegue, e você não pode dizer que desapareceu. Só existe continuidade.

Por isso, quando alguém pergunta: “o zen-budismo diz que não existem nem deuses, nem alma, nem espíritos, então tudo morreu, acabou?”. Essa pergunta não tem sentido do ponto de vista do zen-budismo, ou do budismo. Como seria esse morreu acabou? Acabou o quê? Nada acabou, tudo continua. Só existe continuidade, o que cria uma outra questão: é impossível na verdade sair daqui, por esses meios dos impulsos e dos átomos, você não consegue sair daqui. A proeza de sair daqui é raríssima: ela só é executada por um Buda. Por isso, a situação de Nirvana é a situação de Buda.

A situação de Nirvana é sem ventos, sem agitação nenhuma, sem nenhuma onda. Isso é que seria Nirvana. Nirvana significa fogo extinto, é energia extinta. Se toda energia estivesse extinta, isso seria Nirvana.

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]