Tomo voto com todos os seres | Monge Genshō

Tomo voto com todos os seres | Monge Genshō

Cada vez que estou tentado a julgar, tomo voto com todos os seres, de recordar que ambos temos orifícios no nariz e ambos o mesmo destino implacável. Quando alguém chega atrasado a um compromisso, tomo voto, com todos os seres, de esquecermos do passado e do futuro e relaxar onde nada começa. Então, essa antiga prática pode ser colocada em implementada, podemos inventar nossos próprios gathas, nosso próprios versos para as coisas que fazemos todos os dias e transformar cada momento, do nosso dia, em uma prática. Não é necessário decorar os versos já codificados há muito. Na realidade, nos monastérios há repetição codificada.
Quando raspamos a cabeça, há um verso: corto os fios da ignorância que estão sempre crescendo. Quando vamos lavar as mãos, lembramos que queremos que todos os seres desenvolvam mãos hábeis e sutis para ensinar o Dharma. Quando vamos até o vaso sanitário, recitamos que todos os seres possam se livrar da ignorância, assim como quando evacuo, me livro dos resíduos do meu corpo, assim também quero me livrar da minha ignorância, da minha cegueira, das minhas opiniões sempre perturbadoras. E cada ato pode ser, assim, transformado em um momento de prática. Quando vamos comer, aqueles que já tiverem em Sesshin, sabe que recitamos: que recebamos esse alimento conscientes dos inumeráveis esforços necessários para que chegue até nós e que devemos comer sem ganância e sem avidez, compreendendo que o alimento é um remédio para que nosso corpo possa continuar funcionando e possamos praticar o Dharma. E a cada momento do dia, podemos nos lembrar da prática do Dharma. E para isso, então, servem esses gathas, que são, assim, recitados há um tempo muito longo. O primeiro poema, para encerrar nossa palestra, do livro é “Ao despertar pela manhã, tomo voto com todos os seres, de estar pronto para as fagulhas do Dharma nas flores, nas crianças, nos pássaros”.


Pergunta: O João Pedro pergunta se os gathas, que o senhor acabou de recitar, eles seriam uma forma de nos mantermos no presente.
Genshō Sensei: Sim, são uma forma de nos manter no presente e de transformar nossa mente em outra mente, não é? Por exemplo, no trânsito, quantas pessoas ficam irritadas ou cansadas ou perturbadas. Aí você não tem que fazer nada, não é? e se, na realidade, o trânsito atrasar, que mais você pode fazer, senão aceitar? Você não vai poder sair voando para chegar no lugar que você queria mais cedo. Então, tudo que você pode fazer é aceitar a circunstância e saber disso pode lhe dar serenidade e tranquilidade e afastá-lo da ansiedade e da perturbação. Então, os gathas servem para isso, para que volte a prática do Dharma à sua vida diária. Você está na cozinha e um prato escorrega da sua mão, cai no chão e quebra. O que você pode fazer, senão um gatha? Ah, as coisas são impermanentes. Que os cacos desse prato achem seu destino nas transformações do mundo! E aí limpa o chão. Tão simples assim. A cada momento, voltamos ao momento presente e colocamos o Dharma como ensinamento em funcionamento. Quando alguém se irrita conosco, levanta a voz e fala duro, nós podemos recitar mentalmente: todos os seres têm dificuldades, as paixões o tomam, e eu compreendo isso, porque tantas vezes me deixei levar pelas paixões negativas. Mas se você compreender, permanecerá calmo. Mas se você entrar naquele fluxo, você vai levantar a voz e gritar também, e aí depois vai se decepcionar consigo mesmo.


Pergunta: Sensei, o Fábio Brito gostaria de compartilhar a alegria dele de ter feito dois Zazen quase que consecutivos, hoje pela manhã, e compartilha aqui conosco que se sente muito feliz.
Genshō Sensei: Ah, sim, essa é a prática normal, não é? Nos monastérios, sempre levanta-se de manhã e fazemos dois Zazen consecutivos, com Kinhin e se você vier ao Sesshin, teremos a experiência de praticar Zazen assim, dessa forma, como os monges fazem nos monastérios, você pode ter a experiência, durante três dias, de viver como se estivesse no monastério, e aí pode sentir a influência e a mudança que isso pode realizar em sua mente. Espero que essa palestra, seja inspiradora na sua prática no dia de hoje. Se puderam fazer algum gatha, em algum momento, para se conscientizar daquilo que estiverem fazendo, façam, e esse hábito vai ser transformador.


Teishō proferido por Meihō Genshō Roshi, no Daissen Virtual, em Abril de 2022.