Srotapanna, aquele que entrou na corrente

Srotapanna, aquele que entrou na corrente

1) O senhor falou em uma palestra sobre “entrar na corrente”, poderia falar um pouco mais sobre isso?
Monge Genshô – Penso que a intenção desta expressão em sânscrito, “Srotapanna”, que literalmente significa “aquele que entrou no rio”, srota significa fluxo e apanna aquele que entrou, seja transmitir a idéia de que você se comprometeu o suficiente com a prática para que ela arraste você.
Normalmente o que acontece com o leigo é que logo que ele inicia a prática fica empolgado, mas esta empolgação acaba e é fácil desistir.  Não existe a idéia de obrigação em praticar, não existe a noção de pecado e você não precisa participar dos retiros ou cerimônias, desta forma, as pessoas sentem-se livres para virem à Sangha quando desejarem. Mesmo os monges podem desistir quando assim o desejarem. Isso é perfeitamente possível, pois os votos são dele e não da instituição, e não haverá nenhuma excomunhão ou algo do tipo. Até mesmo um mestre com transmissão do Dharma pode dobrar seu manto e desistir do caminho.
O que acontece é que com o comprometimento, vão se criando vínculos psicológicos que vão firmando você na prática, seus amigos, o hábito de praticar, a comunidade, tudo isso vai criando um elo e fica mais difícil você se afastar, então, dizemos que alguém “entrou na corrente” quando fica muito difícil dele parar. Criou-se uma marca suficientemente forte para que ele continue sempre e, a partir de determinado ponto, o retorno fica difícil.
É como se existisse uma força alheia à sua vontade que o mantém na prática. É claro que para quem decide pelo caminho monástico, isso se torna cada vez mais forte. Acredito que isso seja assim em todo tipo de relacionamento, não é verdade? Não é assim com um namoro, por exemplo? Você conhece uma pessoa, convida para jantar, saem com mais frequência, conhece a família, coloca uma aliança no dedo e finalmente se casam, quanto mais você avança nesse processo, mais difícil de sair. Mesmo assim, não existe nada em lugar algum que diga que você esteja amarrado àquela pessoa, você pode sair do relacionamento quando desejar, mas realmente quanto mais profunda é sua relação, mais difícil de sair.
Aluno – Mas é possível sair da corrente?
Monge Genshô – Sempre dá, não existe nada de definitivo no mundo. Um dia alguém me disse que pensava ser difícil alguém “dar para trás” espiritualmente. Dar para trás na vida é muito fácil. Você pode sair da Sangha, se deparar com um briga no transito, discutir e matar uma pessoa, pronto, vai parar na cadeia e, de tropeço em tropeço sua vida pode ficar muito complicada.