Sobre o não apegar-se

Sobre o não apegar-se

(Ven. Dhammadipa prossegue)
Praticar o Zen significa tornar-se Zen. E tornar-se Zen significa ter seus sentidos totalmente pacificados. Extamente por não haver nada a apegar-se, é que a pessoa realiza a não necessidade de ter apego.
Com isso, a última virtude exposta é kulesvananugiddho, ele não se apega à família. Caso os monges tivessem apego à família, seria muito difícil manter sua mente pacificada. Então os monges são sempre amigáveis à sua família e sempre praticam o amor para com seus familiares. Mas eles não devem apegar-se a eles.
Então essas são as virtudes para a prática do amor. Caso consiga mantê-las, sua prática do Zen tornar-se-á muito fácil. Isso explica o que alguém deve fazer. A próxima sentença explica o que não devemos fazer. Ela diz “Na ca khuddamācare kiñci, yena viññū pare upavadeyyum”, ele não deve praticar aquilo que os homens sábios repudiam. Ele especifica claramente homens sábios e não qualquer homem, não o estúpido. O comportamento daqueles que praticam meditação por vezes não condiz com o comportamento socialmente convencionado. Contudo, pode ser um comportamento bom e benéfico. Pode ser criticado pelos outros, mas caso sua motivação for o amor e a compaixão, os sábios irão compreender e apoiar tal comportamento. Logo, devemos nos comportar de forma que os sábios fiquem satisfeitos e os não-sábios, os estúpidos, não fiquem, mas sem preocupar-se muito. Caso pratiquemos as virtudes expostas, a seguir inicia-se a explicação sobre a concentração.
O Buddha primeiro dá instruções da meditação no amor. “Sukhino va khemino hontu, 
sabbasattā bhavantu sukhitattā”, é o desejo que todos os seres estejam a salvo. Estar a salvo quer dizer, de fato, estar liberto. Logo, a real salvação é apenas alcançada quando alguém obtém completa compreensão, o pleno despertar.
De acordo com o abhidharma-kosa, há de fato dois tipos de meditação. A primeira meditação é baseada na “determinação” e a segunda é a meditação baseada no “ver as coisas como realmente são”. A meditação no amor é baseada na determinação. Você determina que é feliz e que todos os seres são felizes e contempla você e todos os seres como sendo felizes. Apenas quando sua mente for forte e determinada você será capaz de obter sucesso nesta prática.
A maneira tradicional de obter uma mente forte é através da prática da concentração profunda. Caso obtenha uma concentração profunda, o que quer que determine acontecerá de acordo com tal determinação. Caso determine que todos os seres são felizes, de fato poderá beneficiar a todos os seres com sua felicidade e não-aceitação da frustração alheia. Foi assim que Buddha conseguiu transformar seus piores inimigos em seus discípulos e amigos. Ele simplesmente ignorou os atritos e penetrou através deles com amor compassivo e bons desejos. Logo, a meditação no amor terá sucesso quando você for capaz de determinar que todos os seres são felizes e são beneficiados por este amor.
(continua)