Sandōkai – Parte 2 | Monge Genshō

Sandōkai – Parte 2 | Monge Genshō

[CONTINUAÇÃO]

Daikan Enō enfatizava a iluminação súbita. O Zen é uma escola, como vocês sabem, “instantaneísta”. Ela diz que é possível iluminar-se aqui e agora, nessa palestra. Que é possível despertar a qualquer momento. É uma possibilidade, em princípio. Não é que isso vá acontecer com facilidade, mas nós temos a possibilidade da iluminação.
Muitas escolas no budismo desistiram da iluminação. Aconteceu que entenderam que havia tempos de grande decadência, de grande degeneração dos ensinamentos e da prática. Que os monges passaram a ser pessoas que se embebedavam, pessoas que não praticavam as virtudes. E os ensinamentos foram sendo abandonados e ficando apenas os rituais à medida que a prática se enfraquecia. Então criava-se uma grande decadência, que tornava impossível que alguém atingisse a iluminação.
O Zen de Dōgen, a nossa escola, diz o contrário, que a iluminação está disponível aqui e agora, como no tempo de Buddha. Por isso, nós nos sentamos para fazer Zazen, porque acreditamos que fazendo como o Buddha, nós também podemos nos elevar por nossos próprios meios e podemos atingir o esclarecimento, o despertar.
É por isso que a prática no Daissen é uma prática focada no Zazen e nos ensinamentos, porque acreditamos nesta possibilidade da iluminação a qualquer momento. Então, existem grandes escolas sobreviventes no budismo que abandonaram a prática da meditação como Buddha fazia. Ela não é praticada sequer pelos seus monges. Isto é o contrário aqui na Daissen, na nossa confiança nos ensinamentos de Buddha de que os ensinamentos dele eram válidos há 2.500 anos atrás e são válidos hoje.
Daikan Enō, que apontou esse caminho, e cada um dos patriarcas que o seguiu, tinha como opositor o Zen do Norte. Dirigido pelo erudito monge Jinshu. Que frisava uma iluminação gradual, através dos tempos, e achava que era uma pretensão você achar que poderia se aperfeiçoar tanto que atingisse a iluminação agora.
“Mas, ao escrever o Sandōkai, o patriarca Sekitō Zenji, tentou conciliar essas diferenças e acabar com essa contenda. O nome Sandōkai significa, o San, todas as coisas e sua realidade nos fenômenos, o do, expressa a igualdade universal, ou seja, a unidade de todas as coisas sem qualquer distinção, e o kai, refere-se à conformação, unificação e identidade de todas as coisas com algo como a verdade universal, o vazio, o absoluto. Portanto, o nome Sandōkai significa a identidade dos fenômenos diferenciados com o absoluto, ou seja, a conformidade dos fenômenos com a igualdade universal.”
Isso merece algum comentário. Nós estamos vendo uma enorme interação à nossa volta a todo momento, de todos os fenômenos, de todos os seres, de todos os átomos, moléculas, o que quisermos. Todas as coisas estão interligadas, interconectadas, de modo que uma não existe sem que a outra exista. E, na verdade, nós só vemos a realidade por nossa interação com ela. Nós vemos uma interação entre a nossa percepção, a nossa existência e as coisas que estão à nossa volta.
É por essa interação, que podemos perceber que as coisas existem. A interação de todas as coisas é, ao mesmo tempo, o próprio absoluto. Todas as coisas são esse absoluto, essa unicidade. Esse fato é que todas as coisas estão juntas.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em 22 de junho de 2024.