Sandōkai – Parte 1 | Monge Genshō

Sandōkai – Parte 1 | Monge Genshō

Vamos começar a comentar um trabalho relevante que nunca foi feito antes na América Latina, que foi realizado pelo nosso amigo Mokugen Rōshi, que está em Belo Horizonte e que é um estudo sobre os poemas Sandōkai e Hōkyōzanmai. O Sandōkai toca em um tema muito interessante para todos nós, que é a identidade do relativo e do absoluto.
Nós temos muita dificuldade com esse tema por nossa própria natureza. Nós vivemos em um mundo relativo e temos dificuldade de enxergar o absoluto.
À medida que nós prosseguimos nesse tipo de estudo, essas coisas paulatinamente vão clareando-se para nós. Pode ser que fiquemos confusos durante muitos anos. Mas é justamente para isso que temos os ensinamentos.
O Sandōkai é recitado um dia sim, um dia não, nos mosteiros, na cerimônia da manhã. Ele é repetido, vamos dizer, de forma incansável. E vamos ver um pouquinho sobre a história desse poema, para começar.
Ele foi escrito há 1300 anos atrás, pelo 35º Patriarca, que foi o chinês Sekitō Kisen Zenji, que foi tema de algumas palestras nossas, nas quais eu comentava sobre um outro livro, o Denkōroku, que não está disponível em português. Há uma tradução espanhola, diretamente do japonês, realizada por Francis Dojun Cook e eu passei um ano e meio, comentando esse livro, capítulo por capítulo. Agora estou terminando uma compilação de todas essas 52 palestras, cada uma sobre um dos mestres que antecedeu Keizan.
O mestre Keizan foi o fundador do mosteiro onde eu treinei no Japão, mosteiro de Sōji-ji Soin. Também Keizan, foi um grande organizador e um grande líder da Escola Sōtō. Tanto que seu retrato é colocado ao lado da estátua de Buddha, normalmente, nos monastérios e nos templos. E, do outro lado, é colocado Dōgen. Dōgen, que trouxe o Zen do Japão para a China, o Zen Sōtō, e Keizan, o grande organizador, um grande líder. Que fez com que muitos monges, de outras escolas, passassem para o Sōtō Zen.
Sekitō Kisen, que foi o 35º Patriarca, viveu de 700 a 790 na era Tang, chinesa. Viver 90 anos, naquela época, nos anos 700, é realmente uma proeza incrível. Porque imaginem que não havia antibióticos e que as pessoas morriam facilmente de qualquer doença infecciosa. A expectativa de vida média no Brasil nos anos 40, quando foi feita a nossa previdência, era de 42 anos. Não faz tanto tempo assim, que qualquer pessoa que estava passando dos 42 anos, estava vivendo mais do que a média, aqui no Brasil.
Isso tudo muda depois da Segunda Guerra Mundial, com a difusão primeiro da penicilina, primeiro grande antibiótico, que até foi objeto de samba no Brasil. Havia um samba que dizia assim, “penicilina cura até defunto”. Era o mote do samba.
Desde então, a mudança de ótica a respeito das doenças, foi muito grande. Mas, na era Tang, 1300 anos atrás, um homem viver 90 anos, era algo prodigioso. Mas essa era uma tradição dos monges Zen, que comiam de forma diferente, eram ascetas, viviam em mosteiros e praticavam meditação.
Havia já nessa época, a tradição de uma cozinha vegana nos monastérios. De modo que a tradição era que os monges viviam muito. Eram não só longevos, como preservavam a sua lucidez até o final da vida. Sekitō é um exemplo desse tipo de sobrevivência. Apenas por curiosidade, o recordista entre esses grandes mestres Zen, é Jōshū. Cujo registro é que viveu entre 116 e 118 anos e morreu lúcido ainda ensinando.
Na China antiga, no budismo Mahayana, esse poema, Sandōkai, parecia expressar a essência pura do Zen. Já existia um livro taoísta com este título e Sekitō Zenji usou os mesmos ideogramas, só que com a leitura de Sandōkai.
O Sexto Patriarca na China foi Daikan Enō. Nós o conhecemos em chinês por nome de Huìnéng. Daikan Enō, que viveu de 638 a 713, foi um dos pioneiros fundadores da Escola Zen. E ele teve como sucessor, Seigen Gyōshi. Este Seigen Gyōshi, é aquele que teve como sucessor Sekitō Kisen. É exatamente desta linhagem, Daikan Enō, Seigen Gyōshi, Sekitō Kisen, que descende a nossa linhagem presente.
Eu sou nela o número 95. Meu mestre Saikawa Rōshi foi 94. Aqueles alunos meus que recebem o rakusu estão nessa linhagem, na geração 96. Isso é para nós bem importante, essa sequência de nomes, que é a nossa linhagem desde Śākyamuni Buddha. Então, esse mestre que escreveu o Sandōkai é um mestre da nossa linhagem na Daissen.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em 22 de junho de 2024.