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Eles são uma só unidade de amplitude universal. No aspecto relativo, os seres e coisas multivariadas apresentam antagonismos. mostrando-se dualistas, como nos comentários que eu acabei de fazer. No entanto, sob o ponto de vista do aspecto absoluto, esses seres e coisas não apresentam nenhum antagonismo e formam uma só unidade, isto é, nada mais que o estado de igualdade universal, vivenciado pelos Buddhas e por qualquer um que realize a unidade universal. Se formos capazes de realizar a unidade universal, pararemos de olhar as coisas sob formas de classificações. Esse é o hábito sobre o qual Saikawa Rōshi diz que a nossa linguagem nos conduz.
Nosso modo de entender o mundo é colocar as coisas em prateleiras. Como a taxonomia que aprendemos a respeito dos seres vivos, esses são de tal classe, de tal gênero, de tal espécie. É assim que classificamos tudo. Colocamos as coisas em prateleiras. É frequente as pessoas me perguntarem, o Budismo é uma religião? Ou em que classificação filosófica ele se encaixaria? Mas o budismo não se encaixa bem em nenhuma delas. Em nenhuma prateleira da religião o Budismo se encaixa corretamente.
O Zen principalmente, não é baseado em uma fé, não é baseado na existência de uma alma ou na existência de um ser superior, ou de um arquiteto do universo. O Budismo não é assim. Então, quando você tenta colocá-lo na prateleira das religiões, ele não cabe em nenhuma.
É mais fácil dizermos que o Zen é o Zen. É o Zen Budismo. Do que dizer que o Zen é uma religião em si, ou, se é uma filosofia? Por que quer se colocar na prateleira? Ou das religiões, ou da filosofia. E nem é um conjunto fixo, inabalável, doutrinário, dogmático. Não é. Porque nossas posições a respeito do Budismo vêm mudando ao longo dos séculos.
O Budismo vem mudando, adaptando-se, aculturando-se em diferentes locais. Portanto, o Zen é uma obra contínua, não uma obra acabada. Nós não podemos dizer, o Zen é assim.
Não, o Zen está assim, e neste momento do Zen na América Latina, a comunidade Daissen se comporta de tal forma, desta maneira. E é isto que está sendo ensinado pelo mestre atual.
Pode ser que, depois da minha morte, outro, mestre que esteja na posição de diretor espiritual da Daissen, diga, não, nós vamos praticar desta outra forma um pouco diferente, aqui agora. Porque a inteligência artificial, a presença de robôs em grandes números, etc., nas nossas próprias casas e em tudo muda a nossa perspectiva.
O zen tem a capacidade de se adaptar a novos tempos, porque não tem posições fixas. Isso nós devemos manter sempre. A adaptação que uma doutrina dogmática não tem. Dificuldades que as religiões que tinham cosmogonias enfrentaram perante as descobertas da ciência.
E agora, o que fazemos? O que fazemos com uma Terra que não é mais o centro do universo? O que fazemos com uma Terra que gira em torno do Sol? O que fazemos com uma galáxia que não é única no universo? Como o Budismo nada assim declarava, ele escapou desse tipo de confronto.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual 29 em junho de 2024.