O Terceiro Agregado - Parte 01

O Terceiro Agregado - Parte 01

Temos também o terceiro agregado: “O terceiro agregado é o das percepções. Quer dizer os conceitos que se apresentam à mente a cada dia e a cada noite, mas são ilusões durante o dia e sonhos durante a noite. Todo mundo crê que somente o sonho da noite é desprovido de realidade e que todos os pensamentos do dia são verdadeiros, no entanto é um grande erro. Todos os pensamentos de um homem deludido, mesmo aqueles que tem durante o dia, são semelhantes aos sonhos e são ilusões, porém os consideramos como verdadeiros. A ilusão é uma vã imaginação que não tem substância real, porém parece ter. Por exemplo, a sombra se assemelha a uma figura e o sonho se assemelha à vida real, mas nem a sombra e nem o sonho existem realmente, porém o que está no sonho parece existir. Uma sombra não é nada, porém quando o objeto está colocado diante da luz, em seguida sua sombra o acompanha; se o objeto se transforma, sua sombra se transforma igualmente; e quando o objeto se detém, ela se detém também. O mesmo sucede com a imagem refletida pelo espelho, não é absolutamente nada, porém, no princípio, parece que existe realmente. Acontece o mesmo com as ilusões do homem: na realidade, não são absolutamente nada, porém quando se apresentam na mente parecem realmente existir. Odiar, amar, detestar, invejar, suspirar e arder de amor por alguém não são mais que ilusões que não diferem em absoluto do sonho.

Minha mente infinita é como espelho puro ou água límpida. Originalmente essas ilusões não existem de modo nenhum nela. Como não se conhece bem essa mente infinita e retemos o reflexo da ilusão que está refletida sobre ela, tomamos tal reflexo como verdadeiro, e a ele nos apegamos obstinadamente, acrescentando mais e mais, e o engano fica cada vez mais profundo.”

“O ódio e o amor são ambos produtos de nossa imaginação, são o que se chamam de ilusões. Com efeito, quando não conhecemos uma pessoa, não a odiávamos e nem a amávamos, apesar de que agora a odiamos ou a amamos. Geralmente a força de uma paixão se aplica a sentimentos de amor, e o amor aumenta de tal forma que podemos sacrificar nossa vida por ele. Se o amor se torna muito ardente, todo o coração se enche de amor e não podemos encontrar ódio em nosso coração, embora o vasculhemos atentamente, então parece que o coração chegou ao amor perfeito, e esse amor não mudará tão cedo, em milhares de kalpas, porém isso não é correto.”

“Quando duas pessoas discutem e brigam porque se ofenderam mutualmente por algum motivo apesar de seu amor, ou quando o amor de uma delas se dirige para outra pessoa – como é comum no amor -, o ódio atual é mais vivo que o intenso amor de antes. O ressentimento e o ódio se tornam tão profundos que decidimos finalmente sacrificar nosso amor por nos termos apegado demasiadamente. Por essa razão chegamos à conclusão de que é uma ilusão, um engano semelhante a um sonho, haver amado antes e, portanto, odiar agora também é uma ilusão. Se o amor não fosse um engano, não se transformaria em ódio em pouco tempo. Se o ódio fosse verdadeiro, não teríamos amado antes. Como amar e odiar são na realidade ilusões, o coração instável muda como um sonho. É um erro estúpido deixar-se enganar pelo sonho de uma ilusão e consumir-se de amor ou atormentar-se e chegar até a perder a vida, depois de constatar que o amor e o ódio são ilusões, deduzimos que o pesar e o desejo também são ilusões. O mesmo sucede com o ressentimento, a inveja, o prazer e a tristeza, todas essas paixões não são por acaso ilusões? Enganando-se no sonho com essas ilusões, nobres e plebeus, sábios e ignorantes, velhos e jovens fazem crescer as sementes do sofrimento.”

(CONTINUA)

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]