O Segundo Agregado - Parte 01

O Segundo Agregado - Parte 01

Vamos continuar então com o segundo agregado, segundo as considerações de 4 séculos atrás de Tetsugen. O segundo agregado é a sensação. A sensação, segundo Tetsugen, significa compilação, é o fato de receber e acumular. A mente capta o campo dos objetos exteriores por meio dos órgãos dos sentidos, e os olhos captam a cor, os ouvidos os sons, o nariz o odor, a língua o sabor, o corpo o tato. E considera que tendo as sensações, nós as identificamos como agradáveis, desagradáveis ou neutras, mas do extravio de um pensamento, do qual se esperava prazer, nascem inumeráveis sofrimentos. Perseguindo as sensações agradáveis, os homens se perdem porque o desejo de um mínimo de prazer vai levar ao enfaramento ou a um sofrimento posterior, de modo que não existe o prazer puro. Todos os desejos são sofrimentos segundo a antiga afirmação.

“Pelo desejo o inseto no verão se precipita para o fogo e o peixe no lago morde a isca, assim o mínimo de desejo chega a provocar a morte. Não há um só sofrimento que não tenha sua origem no desejo. Por outro lado, nos equivocamos ao acreditar sentir prazer, quando o que tomamos por sofrimento ou um prazer não é originalmente nem sofrimento e nem prazer. A razão é a seguinte: quando uma hiena e um corvo veem um animal apodrecido, pensam que ali existe uma iguaria sem par, então regozijam-se em primeiro lugar através da vista, depois cheiram e o saboreiam, o agarram com as patas e se deleitam mais e mais e creem haver encontrado ali o maior prazer. Porém, aos olhos do homem, tudo isso é incomparavelmente repugnante e asqueroso. Se forçássemos um homem a comer essas putrefações, seu sofrimento seria imenso, as podridões que repugnam de tal forma o homem, atraem a hiena e o corvo que as devoram. É que tendo outros condicionamentos, tomam o que seria para nós sofrimento como prazer, embora isso não seja o prazer na realidade. Sucede o mesmo com aquilo que o homem julga agradável, como não é sábio estar completamente entregue por seu apego, a riqueza o desencaminha, come carnes, pássaros e regozija-se com isso. Para os Budas e Bodhisattvas, o homem é mais vulgar do que são a hiena e o corvo para o homem. Disso se deduz que aquilo que o extraviado considera como prazer, apesar do sofrimento, é julgado agradável.”

O que ele está tentando explicar é que o fruto daquilo que nós identificamos como prazeroso, só é prazeroso por um condicionamento nosso. É por nós termos uma condição qualquer que criamos aquele apego. Vejam: o apego sexual é um bom exemplo. A natureza, por desejar que nós nos reproduzíssemos, nos deu prazer físico no sexo. Imaginem que não houvesse esse prazer físico no sexo, que não existisse orgasmo e que sexo fosse uma obrigação que você tivesse, então seria encarado como uma tarefa desagradável, gastaria energia, você teria que tomar banho depois, teria dor nisso, teria envolvimento com pessoas que talvez você não gostasse, etc. Seria uma obrigação, seria completamente desagradável, assim como comer uma comida sem sabor, que fosse nutritiva, mas tivesse o sabor de serragem de madeira e você tivesse que engolir por obrigação. Então, a origem do truque de nos fazer desejar o sexo, ou alimento, ou o sabor agradável são truques que a natureza usou para uma tarefa que em si não seria agradável. Colocar comida na boca, mastigar, engolir e depois ter que evacuar são uma porção de trabalhos que se não estivessem envolvidos no prazer, no sabor da comida, etc., seriam desagradáveis.

Todos prefeririam ter sua energia através de uma bateria ou carregando numa tomada ou qualquer coisa assim, desde que você colocasse um prêmio de prazer ao se conectar na tomada. O sexo seria a mesma coisa, você preferiria um meio mecânico qualquer e jamais todas as coisas que a natureza deu para que você se sentisse impulsionado a se reproduzir.

Isso tudo que estou falando, essas considerações são para iluminar o que Tetsugen está falando: na realidade, os prazeres, aquilo que nós reputamos como bom, na verdade vêm de condicionamentos, porque para a hiena a carne apodrecida é boa, já que o condicionamento dela é para isso. É o mesmo para o urubu, para o corvo, etc. Ele está iluminando o que é o desejo e o prazer para nós, mostrando que são frutos de nossos condicionamentos mentais, que estão embutidos em nós.

CONTINUA

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]