O Primeiro Agregado | Monge Genshô (Parte 2)

O Primeiro Agregado | Monge Genshô (Parte 2)

No sermão de Tetsugen, ele fala sobre o primeiro de todos os agregados: a forma. “A forma é meu corpo e tudo que tem matéria e cor; o céu, a terra e as plantas no universo, isso tudo está contido na matéria. Surangama Sutra diz: extraviados por um eu desde um tempo sem começo, todos os seres vivos creem que eles mesmos são coisas e, ao não perceberem sua mente infinita, transformam-se, portanto, em coisas”.

O que ele quer dizer é que nós somos a mente infinita, nós somos o Dharmakaya, o próprio corpo da essência, mas o que nos extravia é a noção de um eu. Porque eu acredito em mim, em meu eu separado, eu me perco da mente infinita e do corpo da essência. Assim, nós, seres vivos, enganados pela noção de um eu, nos vemos como coisas, e, por nos vermos como tal, transformamo-nos em coisas, e essa coisa é o próprio ser humano. Nós só somos seres humanos porque acreditamos em um eu separado. Por isso nos perdemos da mente infinita.

A mente infinita está por trás de todas as coisas, mas as manifestações se extraviam por acreditarem em um eu. Nós somos as manifestações. “Isso significa que, não reconhecendo todos os dharmas (fenômenos) como substâncias constantes do corpo da essência, equivocamo-nos sobres eles, considerando todas as coisas do céu e da terra, e, enganados por elas, a mente se engana e produz as diversas ilusões. Enganamo-nos com relação ao corpo da essência ao confundi-lo com o nosso corpo, e, enganados pelo nosso corpo, criamos a mácula das paixões e do ódio, e nos fundimos profundamente nos maus caminhos”.

“Um dos extravios é o seguinte: meu corpo composto provisório”. No texto, Mestre Tetsugen está escrevendo em 1630, e ele sempre fala: “composto provisório dos quatro elementos, a água, a terra, o fogo, o ar”, mas nós sabemos que não é assim, então eu vou trocar sempre isso por átomos, que hoje nós sabemos que é o constituinte de tudo. Então, continuando, “meu corpo é um composto provisório de elementos, a pele, a carne, os músculos, os ossos do meu corpo são todos constituídos por estes átomos. Fora desses átomos não há nada em meu corpo. Se minha vida terminasse neste momento, todos os átomos poderiam voltar à sua origem, e eu não poderia mais de nenhum modo contar com meu corpo”. Então, nós desconhecemos que todo o nosso corpo é constituído de átomos, ele é constituído por coisas que são empréstimos. Nós todos vivemos de empréstimos. Empréstimos de átomos que nós ingerimos, comemos, respiramos.

Todos esses átomos são a própria mente infinita, mas nós achamos que temos um corpo, não vemos como esse corpo é transitório e como os átomos que estão nele vão trocando. Eu bebo água hoje, elimino a água, depois bebo mais água – é sempre água nova, 70% do meu corpo é constituído de água. Mas é tudo empréstimo, não sou eu mesmo, não há nada que se você examinar profundamente seja seu: é tudo emprestado.

Então, Tetsugen diz: “vejam bem que seus corpos são compostos provisórios. E os ouvintes do Dharma e os Budas para si, aqueles que aprenderam o Dharma vendo que tudo é provisório não se apegam a eles como não se apegam ao pó. Não conhecem a mentira, nem a adulação, nem a inveja ou a maledicência, apesar de não haverem obtido dessa maneira o conhecimento supremo, ainda não sabem que seus corpos são o Tathagata do corpo da essência. Ainda assim, o venerado do mundo tinha muita compaixão por eles, porque essas ideias pertencem ao conceito do pequeno veículo”. Aqui há o conceito de pequeno veículo e grande veículo: o pequeno veículo está concentrado na virtude, e o grande veículo, Mahayana, está concentrado na compaixão e na iluminação. O Zen pertence à grande corrente Mahayana. Tudo isso se encontra no Prajna Paramita Hridaya Sutra que recitamos hoje de manhã. No texto daquele Sutra está escrito: “a forma é o vazio, e o vazio é a forma”. A forma é o meu corpo, o vazio significa o verdadeiro vazio. Poderia trocar vazio por inconcebível, acho que fica melhor. O inconcebível significa o verdadeiro inconcebível, como a mente infinita é inconcebível: porque abrange tudo então é inconcebível.

(CONTINUA)

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]