O Ensinamento Direto | Monge Genshô

O Ensinamento Direto | Monge Genshô

Pergunta: Como o Sensei chegou à conclusão de que a verdade independe de crenças?

Genshō Sensei: Bom! Eu acho que é real e evidente para mim, mas primeiro eu comecei acreditando nas coisas, e à medida que o tempo foi passando, eu fui descartando crenças, mas eu tive a sorte de ter conhecido mestres que me disseram coisas claras. Em geral, eles eram mais carinhosos do que eu, como eram japoneses, sempre diziam coisas de forma indireta.

Eu sou ocidental e digo as coisas de forma direta, estou seguindo a tradição de Nietzsche, de Spinoza, estou seguindo essas tradições. Ou seja, as tradições que são do ocidente mesmo e no ocidente foi assim que aconteceu. As grandes mentes que disseram coisas assim no ocidente também não foram tão bem-sucedidas. Podem ser consideradas bem-sucedidas em termos de nós lermos e respeitarmos. Mas Spinoza, por exemplo, teve que viver a vida inteira polindo lentes para conseguir sobreviver, ainda que sua mente brilhante tenha sido extremamente desafiadora para a Europa daquele tempo, e libertou muitas e muitas pessoas de um sistema de crenças que foi arrasador para a ciência e para o progresso durante muitos séculos.

Nos últimos 300 anos nós progredimos muito no ocidente por causa dessas mentes. O zen teve essa postura, o budismo teve essa postura no oriente, mas limitado ao mundo espiritual. Quando nós juntamos essas duas coisas, agora nós estamos falando o mesmo, só que o budismo tinha um objetivo espiritual fora da fé, e isso não chegou a se criar no ocidente. No ocidente, nós tivemos apenas a desconstrução iluminista. Nós tivemos uma grande desconstrução e depois não soubemos onde construir uma ética, ficamos só com o egoísmo. Mas no oriente, pelo outro lado, havia essa questão ética do egoísmo associada a uma mente lúdica. Felizmente, nós hoje podemos juntar essas duas grandes correntes, porque no oriente isso não redundou na ciência, isso redundou apenas em mentes livres do ponto de vista espiritual, mas não caminhou para o lado da ciência. No ocidente nós caminhamos para o lado da ciência, mas só a ciência. O individualismo ocidental acabou gerando cada vez mais armas, mais guerras, mais poder nacional. Ainda não resolvemos tudo isso, mas no budismo acreditamos que é possível mudar o mundo se nós mudarmos as cabeças.

Primeiro, é preciso unir a liberdade mental que foi encontrada no ocidente junto à espiritualidade que foi alcançada no oriente com o budismo. Mas, vejam bem, o budismo, mesmo com dois mil e quinhentos anos, não é bem-sucedido com esse tipo de ensinamento. O budismo que sobreviveu no oriente é, principalmente, o budismo devocional, religioso, não muito diferente do que nós conhecemos no ocidente com as religiões ocidentais. Esse tipo de pensamento que eu estou expressando aqui ficou sempre reservado para mestres, mas não para a população em geral, nem para os religiosos comuns, porque a população no oriente também nunca quis ouvir isso. Os orientais sempre quiseram fazer uma oferenda de incenso para Buda e receber uma benção qualquer. Isso não é diferente de fazer uma promessa para Santa Teresinha…