Mostrar sua verdadeira natureza | Monge Genshō

Mostrar sua verdadeira natureza | Monge Genshō

Monge Butsukei: O J. Mateus perguntou: Boa Noite Sensei, quando percebemos que estamos despertos?

Genshō Rōshi: Nós podemos ter ilusões a esse respeito e fantasias, mas se tivermos uma experiência profunda precisamos procurar um mestre para relatar, para que ele possa nos dizer: isto é uma fantasia, isto é imaginação sua, isso é um insight profundo, significativo, mas não é uma experiência de despertar, ou isto é um Kenshō, um vislumbre, isto é Satori, ou seja, um domínio da capacidade de retornar para a visão desperta, e então precisamos de alguém que nos ajude a dizer o que é aquilo que está acontecendo conosco. E essa é a própria tradição do Zen: visitar mestres, e ouvi-los, ouvir suas observações, testar-se a si mesmo. Existe inclusive no Zen a tradição de testar o aluno através dos Koans.
E um Koan pode ser, por exemplo: mostra-me a tua face antes dos teus pais terem nascido. E se a pessoa for capaz de mostrar como é a sua face antes dos seus pais terem nascido, ela estará mostrando sua verdadeira natureza, o que parece bastante obscuro, quando se faz uma pergunta como essa. Koan significa “caso público”. E é uma pergunta que pretende desafiar o aluno a mostrar sua verdadeira experiência sem as distorções que a linguagem, a imaginação ou coisas semelhantes possam provocar. É difícil enganar um Mestre respondendo uma questão como essa. Porque a resposta de cada pessoa será obrigatoriamente diferente e pode ser estruturada e se pedir mais detalhes daquilo que o aluno está querendo falar ou mostrar.

Monge Butsukei: Muito obrigado Sensei. O Maxwell perguntou: indica algum livro?

Genshō Rōshi: Se você é um iniciante no Budismo indico O Pico da Montanha é onde estão os meus pés. Ele fala sobre o início da experiência espiritual. E se você já progrediu um pouco, ou já leu esse livro, eu recomendaria que lesse O Caminho Zen que são 45 palestras a respeito dos temas, inclusive esse de que estamos falando agora, a experiência do despertar. O Pico da Montanha e o Caminho Zen, o outro, um pouco mais extenso, como uma continuação. Depois destes Além do Pico da montanha é um livro que detalha os passos da experiência espiritual, é para quem estiver interessado nesse tema.

Monge Butsukei: Muito obrigado. Sensei, a próxima pergunta é do Abel: Como separar o que somos do que é realmente verdadeiro e válido na vida?

Genshō Rōshi: Você precisa praticar Zazen, a meditação. E com a meditação do Zen você poderá investigar aquilo que é a realidade, fora daquilo que é a nossa fantasia. Existe um mundo fora de nós, o mundo não é criado pela nossa consciência, mas nós o interpretamos com a nossa consciência, assim o distorcemos extensamente e não vemos tudo que está acontecendo, vemos apenas uma fração daquilo que nos rodeia, e uma fração ínfima. Mesmo quando olhamos sob o ponto de vista do espectro eletromagnético, só somos capazes de perceber uma quantidade de frequências muito estreitas dentro do largo espectro. Aqui, por nós agora, neste momento, estão passando todas as imagens, todas as palavras, todas as mensagens, transmitidas através da internet. Tanto isso é verdade que você pode acessá-las com um celular e pode ver essas coisas, elas estão passando por você, por dentro de você, e você não percebe nada disso. Mas está tudo à nossa volta no mesmo instante e você está vendo só uma fração das coisas. Só a nossa palestra e só as coisas que o rodeiam neste momento. Todo o resto está sendo perdido e seria impossível mesmo você dar-se conta de tudo isso. Então, o nosso nível de percepção é muito estreito, muito pequeno.
Para que nós tenhamos a capacidade de enxergar a realidade tal como é precisamos silenciar a nossa mente discursiva, classificatória, discriminativa, e isso só pode ser feito através de uma prática determinada, um treinamento da própria mente, que é isso que o Zazen é, e é aquilo que nós ensinamos na Escola Zen Budista. E isso permite a você ser senhor de sua mente e passar para outros níveis tanto de percepção quanto de domínio da sua realidade pessoal e da realidade que o cerca.


Resposta proferida por Genshō Rōshi, nas lives do Sobre Budismo, em 2022.