Monges exorcistas | Monge Genshô

Monges exorcistas | Monge Genshô

Pergunta: Poderia falar um pouco sobre como o zen aborda a questão do sobrenatural, especialmente a manifestação de pessoas falecidas neste mundo? Fiquei um pouco confuso com a ideia de monges exorcistas.

Monge Genshō: Na Soto Zen não existem monges exorcistas, qualquer pessoa que se propõe a fazer exorcismos ou limpezas de residências, por exemplo, não está fazendo mais do que enganar as pessoas. Nós estamos falando de coisas como se fossem magias e feitiçarias e há mesmo escolas que sofreram decadência e há mesmo monges vendendo rituais deste tipo, mas isso é absolutamente inapropriado. É algo que não tem sentido, porque o que seria sobrenatural? Como já expliquei muitas vezes sobrenatural é beber água, é abrir os olhos e enxergar, é ouvir alguém falando, o som entra como vibração e passa por nosso sistema auditivo até uma área do cérebro interpretá-los e você conseguir compreender uma mensagem, ouvir, então, é sobrenatural. Por que procurar algo a mais? Além disso? Isso já é sobrenatural.

O que seria a manifestação de pessoas falecidas? Kodō Sawaki foi perguntado sobre isso e deu uma resposta bem típica do zen: “se existem seres de outros mundos que se manifestam aqui e agora estão tão perdidos quanto nós”. Então seria absolutamente inútil tentar ouvir instruções de fantasmas.

Há uma história tradicional do zen que narra a seguinte situação: um homem tinha uma esposa muito ciumenta que um dia disse “eu sei que vou morrer, estou doente, mas quando eu for embora você não pode se relacionar com nenhuma mulher se não vou voltar para assombrá-lo”. Quando ela morreu, ele começou a receber visitas do fantasma da falecida, porque começou a namorar uma outra mulher, então foi, desesperado, falar com um monge zen. O monge perguntou “mas o que esse fantasma fala?”, e o homem responde “ela sabe tudo o que eu fiz, sabe se peguei na mão da minha namorada, sabe se a beijei e então me inferniza e não me deixa dormir”. Então o monge disse “bom, se ela sabe tudo vou lhe dar esse vidro aqui que está cheio de arroz e peça que te diga quantos grãos há dentro desse vidro”. O homem levou o vidro esperançosamente para casa e voltou no dia seguinte para falar com o monge. Contou que ela apareceu e ele perguntou “já que você sabe de tudo me diga quantos grãos de arroz tem dentro desse vidro?”. E então ela desapareceu e nunca mais apareceu de novo, porque já que o homem não sabia quantos grãos de arroz tinha dentro do vidro, evidentemente ela também não poderia saber. Onde é que estava o fantasma?

Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, outubro de 2021.