Mais ouvir do que falar | Monge Genshô

Mais ouvir do que falar | Monge Genshô

São Bento (480-547 DC) foi o grande iniciador do monasticismo católico no Ocidente, e isso só se deu lá pelo século VI depois de Cristo. O monasticismo budista iniciou mil anos antes. No entanto, grandes influências devem ter cruzado o mundo esse tempo todo, porque a regra de São Bento é impressionantemente semelhante a muitos aspectos da regra budista dos monastérios zen.

Assim, o silêncio é muito enfatizado. As refeições são feitas em silêncio. No monastério budista, há uma série de recitações, antes que as refeições iniciem, com ofertas, dedicações e reconhecimentos de todo o trabalho que foi necessário para que o alimento estivesse à sua frente. Na regra de São Bento também se come em silêncio e os monges ouvem um leitor que lê textos religiosos durante esse tempo. 

Mas, hoje, é interessante ressaltar sobre o silêncio e o quanto ele é ressaltado nos sistemas monásticos. Há mesmo Ordens, como a Trapista, em que nada se fala durante toda a semana e há apenas um período de duas horas, no domingo, no qual falar é permitido. 

Diz São Bento que aos mestres cabe ensinar e aos monges cabe calar e ouvir – que essa é a tarefa dos alunos. Não significa que, em suas mentes, não surjam dúvidas ou contestações, mas que elas não passam para as palavras, não saem de suas bocas, e eles devem esperar o tempo para amadurecer seu pensamento e, então, poder expressar algo.

Hoje temos grandes problemas porque todos podem, atrás de um teclado, e praticamente de modo anônimo, sem mostrar seu rosto, dizer e falar o que querem e bem entendem. E, assim, muitos se tornam valentes. Essa valentia e coragem, protegida através do espaço, distante, e, às vezes, sem nome ou identidade ou rosto, é um problema a mais. 

Para os praticantes do zen, nunca é demais enfatizar: ouça agora, espere um ano para fazer uma pergunta, dois anos para expressar uma dúvida, três anos para arriscar contestar, a vida inteira para arriscar-se a ensinar algo.

Lembremos de Joshu, o grande mestre que obteve a primeira realização espiritual, o primeiro laivo de iluminação aos vinte anos, e ficou ao pé de seu mestre até os sessenta. Quando este morreu, passou vinte anos viajando, ouvindo, preparando-se para, aos oitenta, aceitar os primeiros alunos. Joshu é nosso exemplo.

Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.