Lidando com os Problemas - parte 1

Lidando com os Problemas - parte 1

A maior parte dos obstáculos que vamos enfrentando ao longo da prática é criada por nós mesmos. Nós criamos nossos pensamentos e nossas opiniões, então nós vamos criando os obstáculos. Nós criamos obstáculos por meio do nosso apego e por nossa aversão às coisas, que vão se tornando fontes de perturbações. Se eu quero e não consigo, isso me faz sofrer. Do outro lado, a aversão também me causa muito sofrimento porque penso que não gosto disso, não gosto daquela pessoa, e muitas vezes aquilo que a gente tem apego transforma-se na própria aversão.

Isso é bastante evidente nas separações: aquele casal, que tanto se amava, separa-se e começa a falar mal, a achar defeitos no outro, os defeitos mais incríveis, e parece que os defeitos não existiam antes, eles são criados naquele instante. Mas quando você olha os defeitos, todos os obstáculos estão na mente de quem está olhando, porque o mesmo objeto de amor vira objeto de aversão. Então tanto o amor como a aversão estavam onde? Na mente.

É como aquela pergunta: onde estão as formas que vemos nas nuvens? As formas que vemos nas nuvens estão dentro das nossas cabeças. Se nós não soubéssemos o que é um cavalo, não veríamos um cavalo nas nuvens, se não soubéssemos o que é um elefante, não veríamos um elefante nas nuvens. Isso é o natural do ser humano. Muitas vezes eu já ouvi alguém dizer que senta de frente para a parede e lá vê cavalinhos, carrossel, tem de tudo na parede, tem mil desenhos diferentes, e isto é porque ao invés de sentar corretamente e procurar o samadhi, ele olhou para a parede procurando coisas.

Nós já criamos a questão de olhar para uma parede com o objetivo de diminuir os estímulos, porque se você estiver olhando para uma paisagem, então surgem coisas muito mais ricas para ver. Nós nos sentamos de frente para parede para diminuir esses estímulos visuais, para deixar a pessoa ainda mais isolada. Na escola Rinzai, os alunos sentam-se em zazen um de frente para os outros, e você vê o outro na sua frente. Isso é mais perturbador, é mais difícil do que sentar de frente para a parede.

Na prática do zen, nós temos o kyosaku, chamado de bastão da compaixão. Ele é utilizado para golpear a região do trapézio do aluno, a fim de proporcionar um relaxamento dos músculos cansados e para fazer o aluno acordar de uma eventual sonolência. Não é uma prática dolorosa, mas sim relaxante, ao contrário do que possa parecer. E na escola Rinzai, o jikidō, que passa com o kyosaku, bate com ele de frente, o que é mais assustador do que quando você está de costas. Já experimentei essa batida do kyosaku fazendo sesshin (retiro) na escola Rinzai, e é realmente mais assustador, é melhor fechar os olhos e não observar o jikidō.

(Continua)