Budismo x Crenças | Monge Genshô

Budismo x Crenças | Monge Genshô

No dia 08 de abril comemoramos o nascimento de Buddha. Normalmente nesta época faz-se uma festa chamada Hanamatsuri, conhecida como festa das flores. Nesta época é início da primavera no hemisfério norte e as estátuas de Buddha são rodeadas por flores.

Segundo a lenda quando Buddha nasceu os deuses fizeram chover uma chuva doce, chuva de néctar, então hoje derrama-se sobre a estátua de Buddha chá adocicado. Essa referência aos deuses hindus é uma tentativa do budismo da época em se adaptar às crenças do povo hindu. Ao citá-los na lenda os autores tentam colocar os deuses como se estivessem homenageando Buddha, pedindo que ele ensinasse e assim colocavam Buddha acima do panteão dos deuses.

Em cada lugar onde o budismo passou em vez de lutar contra as crenças locais ou desmerecer os deuses e santos a tentativa do budismo foi de influir, absorver e integrar-se, até mesmo permitindo algum sincretismo com as crenças locais. No Tibete os deuses das montanhas ou das encruzilhadas são transformados em protetores no budismo. No Japão os deuses protetores dos pescadores são colocados dentro dos templos budistas e se fazem oferendas a eles segundo as crenças locais. Onde havia sacrifício de animais o budismo o eliminou, mas onde havia oferta de alimentos ou reverências o budismo deixou como estava. Isso aconteceu em todos os lugares exceto agora no ocidente.

Devido ao avanço nos últimos 500 anos de um espírito investigativo e científico que coloca em dúvida as crenças, o budismo, em especial o zen, teve uma facilidade em voltar aos ensinamentos mais básicos do budismo sem fazer concessões às crenças locais. Apenas manifestando respeito, reverência e consideração. Sem jamais lutar.

Esse espírito pacífico de não confrontar é único entre as grandes religiões da humanidade e é um exemplo para nós budistas para que saibamos ser reverentes e respeitosos.

Sentamos em zazen para que nossa mente se desapegue inclusive de opiniões, confrontos e do desejo de impor suas próprias ideias.

Teishô matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, ano 2020.