Alguém escreveu outro dia dizendo que tudo estava dentro de você mesmo e que não é necessário professor para encontrar as respostas dentro de si mesmo. Esse é um mito pois, por exemplo, se você tentar aprender música sozinho, nunca passará de um amador terrível, com posturas e vícios errados. Isso é uma imensa vaidade, o caminho espiritual não é fácil. Eu estou no Zen há quarenta anos e ainda faço perguntas para meu Mestre. Ninguém anda sozinho, precisamos da ajuda dos outros, dos mestres, escolas e métodos.
P: É correto dizer que se está buscando o caminho?
Monge Genshô – O caminho se constrói a cada passo. Você não está buscando um caminho, você está fazendo o caminho. A cada passo você está fazendo seu caminho e amanhã o passo muda. Se você passar a pensar que o Zen é um lugar muito cruel, mude de caminho. O Zen não é o possuidor da verdade e nem há nenhuma crença que possamos dizer que seja certa ou verdadeira, o Zen é um método que serve para algumas pessoas, para outras pessoas existem outros sistemas mais apropriados.
Um mestre do passado disse em resposta a um aluno: “Eu gostaria de te dar alguma coisa, mas só tenho uma bola de ferro incandescente para ser engolida”. A vida é cheia de oportunidades e conhecer o budismo é uma rara oportunidade, pois nem todas as pessoas se sentem atraídas por algo desse tipo. O Zen atrai um tipo de pessoa que não quer mais muletas psicológicas e está focado em esforço próprio, não em ilusões. Qualquer pessoa que vá até o Hattô (templo) e faça prostrações para a estátua de Buda é um herege e ignorante, não fazemos prostrações para a estátua de Buda. A estátua é de gesso, pedra ou madeira e Buda foi um homem como nós. Fazemos prostrações para acabar com nosso orgulho de não sermos capazes de ajoelhar, o fazemos para agradecer o Dharma que nos foi transmitido com o esforço de muitos mestres da linhagem a começar por Shakyamuni Buda.