Zen, uma escola instantaneísta

Zen, uma escola instantaneísta

Palestra Zazenkai Brasília – sábado a tarde
Novembro de 2014
Monge Genshô
Queria conversar com vocês sobre uma tendência, que existe em parte do Zen moderno, que é de desconsiderar a iluminação. Primeiro, acho que isso é uma coisa que existe dentro do budismo há muito tempo, como falamos hoje de manhã, sobre escolas que desistiram da iluminação nessa vida. Mas o Zen não. O Zen tem a idéia de que a iluminação é possível agora, nesse instante e por isso as escolas que têm essa posição chamam-se “escolas instantaneístas”. Existem escolas que propõem um caminho rápido, como dizer que em sete vidas, você conseguirá a iluminação. No Zen a proposta é agora mesmo, nesta vida.
 Outras dizem, “nessa vida impossível”. Vamos praticar para renascer em condições mais favoráveis.  Muitas vezes a gente brinca no Zen, “estou desistindo daqui, quero ir logo para a terra pura porque aqui não dá”. Mas nós não estamos na terra pura.
E existem as escolas instantaneístas, que são as escolas como a Rinzai, a escola Soto do budismo Zen que dizem: “Não, nada mudou, nós somos como Buda. Temos corpos como Buda. Se Buda foi capaz de acordar, nós somos capazes de acordar, agora.” Trata-se de treinar adequadamente, de realmente procurar denodadamente a iluminação. Mas dentro do próprio Zen, apareceu um movimento que eu diria que é um pouco conformista. Ele diz assim: “a prática é a iluminação”. É uma frase de Dogen. Só que na  interpretação de minha linhagem, o que Dogen quis dizer foi que quando você já está praticando, não tem que sair procurando a iluminação.
Quando você senta “ambicionando” a iluminação, a iluminação torna-se impossível, porque tem a ambição de se iluminar e, portanto, de ser melhor do que os outros, obter uma coisa que os outros não conseguiram. Enfim, é um sofisticado materialismo,  o chamado materialismo espiritual. Quero uma coisa para mim, uma jóia que os outros não têm, quero a iluminação. Estou praticando para obter isso. Como  estou praticando para obter algo, então esta ambição é uma ambição egóica. É para mim, para o meu eu.
Por isso, é tão importante o aluno sentar e desistir de si mesmo. Praticar sem objetivo. Eihei Dogen insistiu nesse ponto, ele disse assim: “quando você senta, já é a iluminação”. Isto é, a prática É a iluminação. Entendam que isto é um meio hábil, um truque de linguagem para dizer, “pare de ser ambicioso”. Porque na verdade a pessoa tem que sentar e praticar, se dedicar a todos os outros seres e não a si mesmo. Então você tem que sentar sem o orgulho de querer sentar bem, sem querer mostrar que você é melhor praticante que os outros, sem querer usar uma roupa que o distinga dos outros. Ou fazer rituais com perfeição para os outros verem.Tem que desarmar essas ambições. Se não nós vamos acabar virando um “Zen ostentação”. Vão fazer rakusus bordados de ouro, com fio dourado, colocar pedrinhas, condecorações no rakusu.  (continua)