Zen é pura experiência humana - Parte 1 | Monge Kōmyō

Zen é pura experiência humana - Parte 1 | Monge Kōmyō

Hoje eu gostaria de ensinar um pouco sobre Zen. Não simplesmente o ensino do Dharma, mas o Zen como uma escola. Segundo a tradição, o Zen teria surgido durante um discurso do Buddha. Ele é chamado “Discurso da Flor”. O Buddha estava sentado junto com a assembleia de monges e monges, e leigos e leigas, e ele permaneceu em silêncio, olhando serenamente a assembleia. Então ele pegou uma flor. Algumas flores às vezes eram depositadas na frente do Buddha. Ele pegou uma flor, ele ergueu a flor com a mão direita, ainda em silêncio. E, olhando a assembleia, ele girou a flor na mão dele. As pessoas ficaram surpresas e incertas, e não entenderam. Apenas um monge, chamado Mahakashyapa, ele era um monge já de certa idade, ele, ao ver o Buddha fazendo isso, Mahakashyapa sorriu. E segundo a tradição, o Buddha, ao ver isso, disse, entre outras coisas: “Mahakashyapa compreende o olho do Dharma: a ele eu ofereço a própria tradição”. E tornou Mahakashyapa o seu sucessor.

Esse Sutra, que eu pessoalmente acho muito bonito, não representa a tradição Zen no seu sentido físico. Mas representa algo mais fundamental no Zen, algo que no Zen Budismo é tudo. O “Discurso da Flor” representa a linguagem Zen. E, ao ensinar sobre o Zen, sempre é possível oferecer datas e dados históricos, mas, para que se possa definir o Zen Budismo, nada é melhor do que o “Discurso da Flor”. O Zen se faz de silêncio e meias palavras. No Zen moderno, nós procuramos falar um pouco mais para os alunos. Mas, por mais que se procure falar, se qualquer um de vocês deseja realmente compreender o Zen, é necessário que vocês possam descobrir em si mesmos a natureza de Mahakashyapa e procurar ouvir o que não é dito. Aprender o que não é ensinado. Experimentar o que ninguém vai experimentar por vocês.

O Zen, portanto, é uma escola, como se costuma dizer, que ensina de coração para coração, de mente para mente. O ensino Zen, a linguagem Zen, é direta. Não tem subterfúgios e é por isso que o Zen é tão difícil. O Zen é tão chato. Porque, para quem não presta atenção, o Zen é nada. É um bando de pessoas viradas para a parede, praticando em silêncio, e depois o professor de Dharma ensinando sobre flores sendo giradas pela mão, o som do vento, o barulho da chuva.

Sim, o Zen possui uma instituição. Sim, o Zen possui uma história. Mas à medida em que eu fui aprendendo o Zen, através de prática, acertos e erros, eu descobri, cada vez mais, que o verdadeiro Zen está no silêncio. Mas o silêncio do Zen é muito interessante, porque ele não pressupõe um isolamento. Durante o zazen, a técnica tradicional do Zen, nós não fechamos os olhos. Nós mantemos os olhos semiabertos, fixando um ponto imaginário na parede, apenas como forma de concentração. No Zen, ao contrário do que muitas pessoas imaginam em relação à técnica contemplativa, é uma prática que trabalha o interno e o externo. O “Silêncio Zen” é um silêncio que não se importa com o barulho. É o silêncio que, aqui, enquanto praticamos, os barulhos externos continuam. Tudo o que está acontecendo, todo esse barulho, isso não é interrupção. Isso não é um incômodo. Isso é impermanência. Isso é a vida. E o Zen não nega a vida. Ele recebe a vida de coração para coração, de mente para a mente, diretamente.

[CONTINUA]


Teishō proferido por Kōmyō Sensei em 5 de julho de 2023 na sangha de Rio de Janeiro.