Vegetarianismo budista

Vegetarianismo budista

P: É necessário comer carnes?

R: Se fosse necessário eu estaria morto ou doente… Meu pai era vegetariano e não comi carnes toda a minha vida de 63 anos. Uma dieta com produtos de origem animal sem carnes,nem peixes, é perfeitamente completa, dizer o contrário é falta de informação nutricional em que incorrem mal preparados nutricionistas e médicos.

Os mosteiros zen tem há já 1400 anos uma tradição de comida estritamente vegetariana, desde que se estabeleceram na China, e sabe-se que os monges zen em mosteiros vivem longamente e com lucidez. O fato de o budismo não ser vegetariano como regra não altera estes fatos simples.

P: Como se sente aquele que é vegetariano e budista em relação a uma criança passando fome?

R: A pergunta tem sentido, mas precisamos aprofundar.

Podemos perceber que qualquer ampliação do eu em direção ao mais abrangente é um ganho de consciência. A prática é a ampliação, não importa onde começa: importa seu processo de expansão, porque uma vez iniciado abrangerá cada criança faminta e ser sofredor sem distinção.

Se alguém sente compaixão, ela será em todos os casos uma ampliação. Para alguns, a compaixão vai somente até os limites de seu próprio corpo. Para outros, abrange o seu próximo. Para a maioria, restringe-se àquilo que se vê; se não estiver vendo não se condói. Para outros, até os limites das fronteiras de seu país, de sua raça. É etnocêntrica e cessa com os diferentes; é fácil ver tais limites em ação nas guerras tribais e religiosas.

É muito difícil conhecer alguém que vê toda a humanidade como objeto de seus sentimentos. Para quase todos, a compaixão tem os limites da espécie humana, e não lhe dói um cavalo escravizado e o chicote que zumbe à frente da carroça. Tampouco os matadouros em que as ‘Auchwitz’ de animais funcionam. Para quem o planeta e suas pedras torturadas doem? E a finitude das estrelas entristece?

A dor por alguém de nossa espécie não desqualifica a compaixão por um animal, apenas demonstra até onde vai o limite da consciência. Quantos são incapazes de matar, mas permitem ou pagam para que outrem o faça? São mandantes e não se creem cruéis porque não agiram por suas mãos, apenas outorgaram procuração.

Quantos dizem não gostar de política, e deixam de influir nos destinos de seu povo deixando que outros decidam tudo por eles? Deixam que os outros decidam, até mesmo, os destinos das crianças de quem se apiedam, mas evitam olhar.

Assim, repita-se: qualquer ampliação do eu em direção ao mais abrangente é um ganho de consciência. Por esta razão, o voto do bodisatva fala em todos os seres sencientes como objeto da prática. Falharemos nesta incorporação inevitavelmente.

Mas ao fim, como ocorre com alguns monges que conheço, nenhum país, nem pessoa , nem comunidade, estará fora de seu objetivo. Essas pessoas percorrem o mundo em um permanente esforço de ampliação da compreensão para libertar todos os seres do sofrimento, por todos os meios possíveis, sacrificando, até o limite, seus próprios corpos. Isso porque sua compaixão quer abranger tudo que puder tocar.

Aí não há mais distinções estreitas para a mente iluminada, homem, criança, animal, ou rios e pedras.

Mas ao fim e ao cabo, a compreensão final mostrará a ilusão que mesmo o sofrimento carrega. É ilusão, mas dói naqueles que nela estão mergulhados. Por isso, os bodisatvas permanecem no mundo tentando acordar os seres até que este tempo cósmico se esgote. Eles sabem que o bem e o mal não existem, nem o certo nem o errado, nem a dor. Mas, para quem a sente, ela é angustiante e é uma alegria libertar qualquer ser de seu grilhão.

( Mais respostas podem ser encontradas em www.daissen.org.br na secção “Perguntas”)