Sobre traduções de Dogen.

Recebi uma carta com comentários sobre as traduções de Dogen, de meu dileto amigo e budista histórico Prof. Celso Marques (Prof de filosofia da UFRGS), como é uma carta primorosa divido com todos os interessados nos textos do grande mestre Dogen Zenji:

“Meu velho e querido amigo Chalegre-Genshô ! Gasshô !

É um prazer e uma honra atender ao teu pedido. 

 A tradução inglesa do Shôbôgenzô, texto integral em quatro volumes, do mestre Sotô Zen Gudo Nishijima e seu discípulo Chodo Cross. Até 2010 era considerada a melhor tradução inglesa. Nishijima passou a maior parte da sua longa vida estudando Dôgen. É uma tradução valiosa devido à autoridade espiritual do mestre zen e pelo perfeccionismo do Chodo Cross. Além da tradução temos aí o resultado de todo um imenso trabalho exegético e interpretativo com abundantes notas de rodapé que tornam a sua leitura muito rica e significativa. Chodo Cross declarou publicamente, ao mundo inteiro, em comentário na Amazon.com, que estava ainda muito insatisfeito com a tradução. Uma lição de humildade, grandeza e de respeito pela obra de Dôgen. Eu disse que até 2010 esta tradução era considerada a melhor. Saiu uma tradução notável do Shôbôguenzô em 2010 que hoje é obra de referencia obrigatória. Trata-se de um trabalho coletivo produzido pela nata do Sotô Zen nos Estados Unidos. Uma publicação primorosa em dois volumes encadernados dentro de um estojo. Edição da Shambala. Coisa de 280 dólares. As minhas primeiras impressões de leitura foram ótimas e esta tradução é um marco do budismo ocidental.  Estas duas traduções são importantíssimas para os estudiosos e praticantes do Sotô Zen. Outro tradutor e comentador notável de Dôgen é Masao Abe. Junto com Norman Waddell ele publicou The Heart of Dogen’s Shobogenzo, uma tradução anotada primorosa de nove capítulos desta obra. Existem cinco traduções inglesas do Shobogenzo. Mas estou sem tempo para fazer comentários sobre elas. Existe uma tradução notável em francês, realizada por Yoko Orimo que já está no sexto volume, publicado em 2012. É uma tradução requintada, extremamente erudita e copiosamente comentada. No entanto eu discordo de algumas comparações do pensamento de Dogen com a dialética de Hegel, detalhe filosófico ínfimo que, absolutamente, não invalida o seu prodigioso trabalho. Existem outras traduções em francês que poderei comentar em outra oportunidade, caso haja interesse. Para finalizar temos em português duas obras insubstituíveis de budistas brasileiros históricos. As traduções parciais de Dogen e de textos clássicos do zen, feitas por Ricardo Mário Gonçalves na antologia Textos Budistas e Zen-budistas (Cultrix), e o livro O Mestre Zen Dôguen, tese de doutorado do meu amigo e companheiro de muitos anos de prática e de convivência, o monge Sotô Eduardo Basto de Albuquerque. Fico emocionado ao evocar estas duas pessoas que foram marcantes na minha formação budista, especialmente o Eduardo por já não estar mais entre nós. Receba um grande abraço. No Dharma, Gasshô, Celso Marques.”