Sobre Carma [parte 02]

Sobre Carma [parte 02]

É muito difícil nós fazermos o que fez Nagarjuna: dizermos para nós mesmos, quando nos acontece algo negativo, que nós mesmos fizemos por onde este algo negativo acontecer.

Quando eu olho minha vida mesmo, aconteceram algumas coisas bem desagradáveis, e todas elas fui eu que provoquei com minhas escolhas. É bem claro, fui eu que arrumei o problema, redundou nisso e depois no meu sofrimento, e, além de mim, no sofrimento de outras pessoas. Por isso então resolvi que mudaria minha conduta, minha maneira de viver, e isso mudou também meu carma e minha vida.

Então, já fiz entrevistas em que chegam até mim e contam: “Ah, eu estou envolvido em uma coisa assim e acho que vou fazer isso e aquilo…”. Logo me lembro das coisas que eu fiz e digo: “Não faça, por causa disso e disso, a consequência é essa, as coisas acontecem assim e assim…”.  Felizmente sou monge e as pessoas respeitam o que eu estou dizendo, então várias vezes  já consegui mudar o rumo de uma vida por causa disso. Mas a resposta à sua pergunta original é: SIM, tudo o que nos acontece, é, de alguma forma, por nós merecido.

Às vezes parece que não, a exemplo de uma criança sofrendo: nós olhamos para a criança, mas quantas pessoas cruéis existiram no passado? Ela tem a oportunidade de renascer, e tem o retorno cármico. Quantos de nós em vidas passadas não fomos soldados com canhões, atirando flechas ou dando tiros em outras pessoas? Um dia nós recebemos um retorno, e, quando isso acontece, a falta de uma visão mais profunda da existência faz-nos achar este retorno injusto, mas não o é.
 [N.E.: texto transcrito de Palestra realizada por Monge Meihô Genshô em Florianópolis, 26/09/2016]