Sentamos para esquecer

Sentamos para esquecer

(continuação)
Aluno: – Mas é difícil esquecer de si mesmo.
Monge Gesnhô: – Muito. A primeira coisa para superarmos esse problema é sentar em zazen. Uma vez sentados, não devemos deixar que nossa mente faça comentários. Primeiro, sentamos para meditar. Mas para que? Para meditar sobre nós mesmos? Sobre nossa vida? Não. Sentamos em zazen para esquecer. Esquecer nosso passado e nosso futuro. Se treinarmos nossa mente para isso, começaremos a nos tornar livres. É por isso que fazemos zazen. Será difícil alguém aqui achar um sofrimento do qual não possa dizer, “vem do eu”. Qualquer sofrimento vem do eu, os sofrimentos dos outros que nos doem, vêm do eu, porque somos apegados a eles. O sofrimento do eu que se sente ofendido, vem da crença no eu. Tudo vem do eu, pois como temos um eu, ele pode ser ofendido, se não houvesse um eu, não poderia me sentir ofendido. Algumas coisas são fáceis, bem fáceis. Se esquecermos que as coisas são nossas, não tem problema que elas sejam danificadas, não é isso que é mais importante. 

Ontem – acho que isso está se tornando tradição – bateram no meu carro novamente. Novamente uma mulher. Saí do carro e, naturalmente, fiquei com pena dela. Já estava chorando, apavorada, “como irei pagar, são dois carros, ainda por cima!”, o carro dela não tinha seguro. Tentei tratá-la o melhor possível. Depois de alguma conversa com o outro carro envolvido, resolvemos que o carro do meio assumiria a culpa e tudo ficou resolvido. Então, de noite ela me ligou para agradecer a forma como tinha sido tratada. A grande pergunta é: “Porque isso é possível?” Porque o carro não tem importância. Mas isso é fácil, o carro não tem importância. “Ah, mas bati no seu carro e não tenho como pagar”. Bom se você não tem como pagar, uma coisa é certa, não vai pagar. Assim, esse problema já está resolvido.
Aluno: – Isso é bem difícil mesmo, pois toda pessoa que entra num carro se transforma.
Monge Genshô: – Mas, veja bem, o outro senhor cujo carro estava no meio – ela bateu atrás do dele e o dele bateu no meu – ele também foi muito gentil. Então, fomos todos à delegacia no dia seguinte para registrar a ocorrência num clima de grande amizade. 

A gente nunca sabe como as histórias irão terminar, pode uma coisa que parece muito ruim se transformar em algo muito bom. Quando acontece algo ruim, devemos parar e procurar onde está o lado maravilhoso daquela história. Pode estar na nossa frente e não vermos. Uma vez, eu estava no Paraná trabalhando em uma consultoria e o avião fez um pouso de emergência. Estávamos todos no aeroporto muito chateados, pois teríamos que esperar muito tempo até que o problema fosse solucionado. Olhei em volta e pensei, “Onde estará a boa sorte dessa situação?” Então observei um senhor. Aproximei-me dele e começamos a conversar. A empresa aérea pagou um jantar para todos e fomos juntos, conversando. Para resumir, ele era diretor de uma grande empresa de franquias e acabou me contratando para fazer uma consultoria, pela qual recebi bom pagamento. Assim, o que era uma situação de grande chateação e desconforto, transformou-se numa ótima oportunidade.