SALADA RELIGIOSA

SALADA RELIGIOSA

Pergunta: Outras práticas paralelas atrapalham ou a pessoa precisa ter exclusividade?

Monge Genshô: Existem muitas práticas boas. Já conheci pessoas maravilhosas espiritualmente no Kardecismo, no Cristianismo, tenho amigos Monges Católicos, pessoas excepcionais. Mas cada caminho tem uma coerência interna, tanto doutrinário quanto de métodos. E isso levou muitos séculos ou milênios se desenvolvendo. Você tem uma boa imagem para isso. Você tem uma montanha e quer subi-la. Tem várias trilhas para subir a montanha. Você começa a subir uma trilha e olha para outra e diz “ah, aquela outra trilha também é interessante”. Desce e vai andar na outra. Mais adiante tem outra, “ah, aquela ali tem um campo florido”. Aí vai para outra, para outra. Você não sobe a montanha. O que você faz é trocar de trilha e ter um aperitivo de cada um. Não é assim.

Você tem que pegar um caminho, escolher com cuidado, escolher com cuidado seu professor e aí trilhar ele denodadamente até chegar lá em cima. Pessoas que já atingiram um nível bem alto, podem visitar outros lugares e partilhar. Eu já fui para mosteiros católicos e coisas assim. A experiência é muito boa. Já tive visitantes assim. Estão firmes em seu caminho e vem apenas conhecer algo de outro. Não vem seguir aquele caminho.

Uma coisa que acontece no Brasil muito ruim é a conduta de salada. Eu vou construir o que “eu gosto”. Então pego uma coisa de um lugar, uma coisa de outra, uma coisa de outra, uma coisa de outra. Não tem coerência filosófica nenhuma e é uma salada de práticas que a pessoa vai no “supermercado” e pega uma coisinha qualquer que gostou. “Ah, gostei da liberdade sexual desse negócio aqui”. “Ah, gostei dessa outra prática aqui, achei interessante”. “Gostei da festa de tal lugar”. E vai juntando tudo e diz: “Tenho meu caminho”. Ela não tem caminho na verdade. Ele tem uma salada, uma gororoba. Pegou vários pratos muito bons e colocou em um prato grande. Só que em vez de comer direito, ele mistura tudo e tem uma pasta cinza para comer. Isso não é saber apreciar. Os caminhos têm suas virtudes e suas coerências internas.