Respondendo perguntas | Monge Genshô (Parte 2)

Respondendo perguntas | Monge Genshô (Parte 2)

Pergunta: O senhor já disse que o sofrimento é o caminho mais curto para a realização espiritual. Em planos mais elevados, não seria mais difícil entrar em um caminho para o despertar?

Monge Genshō: Não se trata de planos mais elevados, mas em planos muito confortáveis não há a procura pelo Dharma. É muito raro que pessoas que têm vidas muito confortáveis, cheias de méritos acumulados, evidentemente, que lhes permitam ter vidas sem pressões especiais, procurem o Dharma. É necessário um sofrimento, mesmo que seja um sofrimento existencial, uma angústia existencial, para então procurar o Dharma. Tem que haver algum sofrimento, sofrimento psíquico ao menos. 

Foi isso o que aconteceu com Shakyamuni Buddha, ele estava angustiado com a questão da velhice, doença e morte, com o fim de todas as coisas, com a questão de a vida parecer não ter sentido e ao procurar por um sentido para a vida é que ele parte em busca do despertar. Diz-se que os deuses têm vidas muito boas, maravilhosas e, por isso, no reino dos deuses não se ouve o Dharma. Eles jogam flores no Dharma, mas não se esforçam, não praticam, porque tudo parece já muito bom. E é por isso que os deuses decaem e quando decaem, então eles têm oportunidade, porque experimentam de novo o sofrimento. Vejam aqui que a ideia de deuses – devas no budismo -, não se refere a divindades, como nós costumamos pensar, mas sim a seres que vivem em mundos muito prazerosos.

Pergunta: Em qual passo do boi está o praticante que experimenta os primeiros insights durante o zazen? Pode descrever sua primeira experiência de insight?

Monge Genshō: Não é útil descrever as experiências de insight pessoais desta forma, isto é uma conversa para um dokusan. Mas os primeiros insights surgem rapidamente quando nós começamos a fazer zazen e vamos dizer que a primeira percepção da verdadeira natureza surge no terceiro passo, em experiências muito curtas e fugazes. Isso é o início do caminho espiritual e a partir daí não é necessário ter mais fé no budismo, porque já vimos algo e assim então podemos transformar a confiança, a fé, em experiência, porque você já viu que é possível. Você já levantou o véu e visualizou o despertar, de modo que já pode verdadeiramente passar para o outro lado e não somente espiá-lo de relance. Para isso vai precisar se esforçar ainda mais, ser ainda mais diligente com sua prática e se aprofundar verdadeiramente no caminho. A iluminação, ou despertar, possui vários graus e ter uma primeira experiência é muito comum, porém precisamos ir além.

Perguntas respondidas por Meihô Genshô Sensei, Janeiro de 2021.