Porque a palavra "pecado" é inadequada ao se falar em budismo

Porque a palavra "pecado" é inadequada ao se falar em budismo

Texto de Henrique Pires editado por Monge Genshô:
“A palavra mais próxima de “pecado” em textos buddhistas é 罪(zui), geralmente usada para apontar quando alguém quebra um preceito ou prejudica outros seres. Em sânscrito, essa ideia de descumprir as regras de treinamento ou agir de maneira lesiva e ignóbil costumam aparecer como
āpatti e avadya. O significado não tem que ver com “pecado” tal como entendemos convencionalmente. Fala-se de descumprir um compromisso ou de agir tolamente. Não existe a noção de uma imposição categórica e de um dever ao qual todos deveriam se ater obrigatoriamente.
Quando não, melhor o traduzem como 惡業 (e ye), “ação negativa”. O que simplesmente expressa que algumas ações são inúteis e só agregam sofrimento. Por vezes traduzem como adharma, pāpa, akuśala… Designando algo que não é benfazejo, que prejudica, que não é hábil. Note que isso difere novamente da concepção geral de pecado.
Se eu comer porcaria, vou adoecer. Isso é uma ação inábil; faz sentido falar assim no Buddhismo. Mas não faria sentido chamar isso de “pecado”.
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Por outra analogia, se eu fico acordado até tarde e não durmo, isso é lesivo e inábil. Pode ser chamado assim. Mas não faz sentido chamar de pecado. Senão todos os insones seriam pecadores. Se eu me relaciono com uma pessoa abusiva, sofro horrendamente de amores, e permaneço numa relação doentia eu estaria sendo inábil; isso pode se chamado assim. Mas não se pode falar que todas as pessoas nessa condição são “pecadoras”. ………………..
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A adoção dessa noção geral de pecado, quer seja emprestada do hinduismo ou do cristianismo, não faz absolutamente sentido nenhum no buddhismo. O Buddhismo se centra no que é hábil e inábil.”
Nota, Monge Genshô: O uso da palavra reflete as dificuldades de tradução e a tentativa de “adaptar” uma cultura a outra, o que ocasiona dificuldades de compreensão devido ao desconhecimento das línguas originais, mas com o tempo iremos dirimindo tais enganos.