Quando tinha ao redor de 8 anos, um amigo de meu pai levou a mim e meu irmão a pescar em um riacho no campo. Não sabíamos o que era aquilo direito. Com um caniço de bambu, uma rolha como bóia, aguardei o momento em que um lambari mordiscasse a isca. Conforme as instruções puxei firmemente a linha e um fragmento de prata faiscou ao sol da manhã.
Gritei eufórico, minha primeira pesca, era meu aquele peixe, minha vitória arrancada do fundo das águas, meu prêmio de predador.
Na pedra da margem examinei minha presa, o anzol, ao meu puxão, entrara na sua boca e se projetava pela sua face vazando um dos olhos. Uma sensação de horror pela minha maldade me tomou de imediato. Sentimento que me acompanha até hoje mais de cinquenta anos passados. Larguei caniço, anzol, irmão, e voltei para casa sem que me entendessem. Era irremediável meu ato, jamais poderia devolver aquele olho, nem refazer aquela vida que minha interferência destruíra. Assim construímos nosso carma, passo a passo, crueldade por crueldade.
Espero que os que me leem compreendam porque causar tal sofrimento a um ser que nadava feliz no remanso da correnteza, se tornou uma lição sobre a natureza do que os seres humanos chamam de diversão.