A questão é: o que é vazio? O que é vazio para o budismo? Nós dizemos que todas as coisas são vazias e isso é confundido com o fato de a natureza ser predominantemente preenchida por espaço vazio. Um exemplo claro é que se nós pegarmos um átomo e colocarmos dentro da cúpula da Catedral de São Pedro, em Roma, o núcleo do átomo que é a parte que tem matéria em si, ou seja, energia condensada em forma de matéria, em prótons e nêutrons, vai ter o tamanho de um grão de sal e os elétrons vão girar na cúpula. Portanto todo o resto é espaço vazio.
A Terra é constituída de espaço vazio de tal forma que se um neutrino passa pela Terra ele atravessa todo o diâmetro do planeta e sai do outro lado sem bater em nada. Poucos neutrinos chegam a se chocar com núcleos e só quando isso acontece eles podem ser verificados.
Nós estamos sendo atravessados agora por partículas de todos os lados, porque nós somos constituídos de átomos. E algumas pessoas confundem o vazio budista com este fato físico. Não quer dizer que as coisas são vazias de matéria, ou que têm muita pouca matéria. Na verdade, o vazio budista significa vazio de um eu, que nenhuma coisa tem um eu inerente. Um eu que possa ser atribuído.
Esta casa é construída de madeira, ferro, tijolos, cerâmica, reboco, o que nós quisermos descrever aqui, mas se nós derrubarmos a casa será um monte de entulho de materiais, os mais diversos e esses materiais não são mais para nós uma casa. Será apenas um monte de entulho. Então onde está a casa? Se nada do que era a casa está faltando no monte de entulho? A casa é uma determinada organização da matéria, de tal forma e ideia que chamamos de casa. Todos os objetos que nós olhamos são assim.
Uma cadeira é assim, se nós a desmontamos não será mais uma cadeira. A cadeira, como a que estou sentado, é só uma cadeira quando um ser humano se senta e essa é a visão do ser humano. Para os cupins não é cadeira. A cadeira é vazia de um eu chamado cadeira, somente dentro da nossa cabeça é que existe cadeira. Só um homem olha para uma cadeira e diz “é uma cadeira”, um cupim não diz “é uma cadeira”, porque para ele não é assim. Ela não é uma cadeira. É comida.
E assim todas as coisas no universo são só identidades quando nós as nomeamos e temos uma ideia sobre elas. Isso é muito fácil de entender. O difícil é perceber que nós mesmo somos vazios de um eu. (…)
Texto da palestra proferida por Meihô Monge Genshô, ZAZENKAI, 2019.