O Primeiro Elo - Parte 1 | Monge Genshō

O Primeiro Elo - Parte 1 | Monge Genshō

“O Dharma, incomparavelmente profundo e de uma sutileza infinita, é raramente encontrado, mesmo em milhões de milhões de ciclos universais. Possamos nós, agora, ouvi-lo, aprendê-lo e guardá-lo. Ouçamos cuidadosamente as palavras do Tathāgata.”

Hoje começaremos uma série de doze aulas, e nós vamos tomar um a um os elos da originação dependente. O primeiro elo da originação dependente é a ignorância. É com ela que começa tudo e é, por causa dela, que nós estamos aqui agora. Esse primeiro elo, a ignorância, tem o nome em sânscrito de Avidyā. “Avidyā” significa literalmente não ver. O sânscrito é uma língua de origem indo-europeia, descendente do próprio indo-europeu, assim como o português. As línguas da Índia, na realidade, são parentes das línguas europeias. Nós podemos ver isso facilmente na palavra Avidyā. “Vidyā” significa “ver” e tem a mesma raiz de “ver” em português, que vem de “videre” em latim: “vidyā”, “videre”, “ver”, em português. Em sânscrito, Avidyā, a partícula “A” significa negação, como em português usamos “moral” e “amoral”, esse “a” significa o contrário, e não “é”. Então, “Avidyā”, “não ver”, “não enxergar”. Que é então, a palavra para o significado de ignorância.

Quando nós olhamos as coisas, nós as interpretamos de uma determinada forma, isso, às vezes, é obscuro para nós mesmos. Mas vamos lembrar então de uma figura reversível, todos vocês já devem ter visto uma figura reversível. Você olha, por exemplo, e parece uma velha, e você olha de novo, ou alguém lhe mostra e explica e você vê uma moça. Olhando de uma maneira, é uma velha, olhando de outra maneira é uma moça. Há muitas figuras assim, quando você vê uma coisa, você não vê a outra. Como a figura de um cubo desenhado em linhas no papel, você pode vê-lo com uma quina voltada para você ou ao contrário. Há uma figura que parece uma ampulheta, mas se você olhar de outra forma, parecem dois rostos. Basta colocar na internet “figuras reversíveis” e você vai ver muitas figuras desse tipo.

O interessante é observar como funciona a nossa mente. Ela enxerga uma coisa e, quando enxerga uma coisa, não enxerga outra. E isto é uma escolha, existe um clique dentro da sua mente que pode fazer mudar, “quero ver isto”, e você vê, “quero ver aquilo” e você vê. Isso quer dizer que existe uma liberdade interna na mente para ver uma coisa ou outra. Você olha para o céu e vê nuvens e alguém lhe diz: “olha, ali tem um cachorrinho”, “onde?”, “olhe ali, naquele lugar, aquela parte é o focinho, aquela outra parte é o rabo”. E, de repente, você vê, “Ah, sim! Parece um cachorrinho”, e quando você olha para a nuvem sempre vê aquele cachorrinho, até que ele começa a se desfazer. Onde está o cão? Está na mente de quem vê, evidentemente, porque na nuvem não existe nenhum cão.

Algumas pessoas sentam em frente a uma parede, e começam a olhar as ranhuras da parede, e querem ver figuras na parede. E poderão ver muitas figuras. Se quiserem ver mais figuras, verão mais. E é difícil começar a olhar para algo que você viu de uma determinada forma, e desfazer aquela forma e ver exatamente o que é, uma ranhura na parede, ou uma nuvem no céu. É só uma nuvem. Não existem cães, gatos, elefantes, nada lá. Tudo aquilo está em uma interpretação na sua mente.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em dia 20 de janeiro de 2024.