Comunidade Daissen - 22 anos | Monge Chūdō

Comunidade Daissen - 22 anos | Monge Chūdō

A Sangha Daissen surgiu há alguns anos, fruto de uma palestra proferida por uma pessoa vinda de Porto Alegre, que, na época, nem imaginava que tipo de frutos a semente daria. Hoje, passados 22 anos, o Monge Genshō se diz um homem realizado e feliz, como nunca foi em toda a sua vida de empresário de sucesso e consultor de empresas.

Mas o que é ter sucesso na vida? Nossa sociedade, baseada em números e cifras, classificaria o senhor “Petrúcio Chalegre” como um homem bem-sucedido. Uma vez li uma frase que dizia que “sucesso é quando as leis da natureza se manifestam através de nós”. Sucesso é quando manifestamos aquilo para o qual viemos ao mundo.

Petrúcio Chalegre tinha tudo o que um homem de sucesso, no contexto em que ele vivia, poderia sonhar. Mas dentro dele pulsava algo que ia na contramão de toda essa fantasia de dinheiro, fama e aquisições; pulsava uma ordem universal, pulsava uma energia que o impulsionaria, mesmo que ele nunca tivesse imaginado isso, a se tornar Genshō Rōshi. Se perguntarmos a ele, dirá que nunca pediu por isso.

Na Bíblia Cristã está escrito “Peça e serás atendido”; este “peça” muitas pessoas confundem com ajoelhar e orar pedindo algo. Lembro de quando era pequeno e fazia alguma besteira e me machucava, meu pai dizia, “Tu pediste por isso”; eu ficava pensando “como assim? Não pedi nada disso”. Pedir é se pôr a caminho, pedir é arregaçar as mangas e trabalhar, é fazer algo para que as coisas aconteçam e, neste sentido, Petrúcio Chalegre pediu muito para se tornar a pessoa que ele é hoje.

Muitas pessoas pensam como eu, “que a sangha mudou minha vida”, que sentar para meditar ou para conversar com alguém da sangha é um profundo privilégio e isto só é possível porque lá atrás Genshō Sensei deixou de ouvir os apelos mundanos para se dedicar a um caminho espiritual estrito e difícil: a vida monástica. São muitos anos de dedicação ao Dharma de Buddha e quando conversamos, é fácil perceber o quão feliz e realizado ele é por saber que muitas pessoas estão na mesma jornada, seja como leigo ou como monge, e que isso se deve a uma semente por ele plantada, mas que foi irrigada e cuidada por muitas mãos.

Ele sabe que nada disso seria possível se estivesse sozinho, ele sabe que a Sangha Daissen tem muitos braços, pernas e mentes, ele sabe que dentro de todos nós existe um Buddha em potencial e não mede esforços para que também nos ponhamos a caminho, para que realizemos aquilo para o qual viemos ao mundo. Quando olho as fotos antigas da Sangha vejo o grande número de pessoas que já sentaram com o Sensei, quantas ainda estão conosco e quantas não mais, mas tenho certeza de que estas segundas levaram consigo grandes ensinamentos e, em algum momento, dirão “Como me disse uma vez o monge Genshō…”.

Todos temos momentos preciosos para recordar, momentos engraçados ou momentos de reflexão, cada praticante é um capítulo deste livro chamado Daissen. Como praticante de Aikidō, muitas vezes visitei a Academia Central de Aikidō em São Paulo para treinar durante alguns dias. Certa vez alguém me disse “Tu és aluno do Pádua Sensei, né?” Lembro que me senti feliz porque minhas atitudes dentro e fora do tatami se pareciam com as de meu mestre a ponto das pessoas reconhecerem em mim algo dele. Espero que um dia alguém me diga “Teu mestre é o Monge Genshō, né?”.

Existe uma frase em japonês que diz “Sempre aos olhos do seu mestre”. Meu desejo é que todos tenhamos a postura de quem está sendo observado continuamente por nosso mestre, não com olhos de quem julga, mas de quem sabe que podemos mais, mesmo quando ele já fizer parte do mundo dos Buddhas.


Texto escrito por Monge Chūdō em meio ao aniversário da Comunidade Zen Budista Daissen Ji em 26 de abril de 2024.