Monge Butsukei: Como superar o apego?
Genshō Rōshi: O apego, na verdade, é a fonte de nosso sofrimento. Fonte de muitos desconfortos, de muitos sentimentos angustiantes. E por quê?
Eu gostaria de falar um pouco sobre os 3 Refúgios, sobre a ideia de refúgio, que é presente no budismo muitas vezes. Nós fazemos uma oração muito continuamente que é “shariraimon” em japonês, e o texto em português é “Tomo refúgio no Buddha, tomo refúgio no Dharma, tomo refúgio na Sangha”, ou tomo refúgio no ensinamento, e na doutrina, tomo refúgio na comunidade. E isto é uma maneira de escapar do sofrimento. Por quê?
Porque nós tomamos refúgio, na vida, nas coisas erradas.
Suponha uma pessoa que tome refúgio no dinheiro, e ela acha que tomando refúgio no dinheiro vai escapar do sofrimento. Eu já conheci um homem muito, muito rico. Uma vez eu o vi comprar 300 kg de ouro, o que é muito, muito dinheiro, nem sei calcular aqui quanto é que custa um kg de ouro, ou quanto é que custa uma onça, um miligrama, mas é uma quantidade enorme de dinheiro. E esse foi um dos homens mais infelizes que eu já conheci. Ele tinha que correr para guardar o ouro em cofres, e tentar escapar dos impostos, e tão preocupado com ganhar dinheiro, como não perder o dinheiro que tinha, que ele tinha se tornado profundamente avarento. Foi uma das poucas pessoas que eu conheci na minha vida, que mandava virar os colarinhos das camisas, porque o colarinho ficava puído do lado de dentro, então ele virando podia usar o outro lado, daí ele economizava. Mas, uma pessoa que ganhava um dinheiro incalculável para todos os outros, tentava economizar dinheiro nas coisas mais mesquinhas, nas coisas mais irrelevantes.
Aconteceu que a família o deixou, os filhos o deixaram, a mulher o deixou, e no fim da vida ele estava sozinho, morando num flat. Eu saí com ele para jantar, e tudo que eu queria era ir embora o mais rápido possível de tão desagradavel ele tinha se tornado. Uma pessoa cheia de queixas da vida, e o dinheiro não lhe tinha servido de refúgio para nada, ele não podia se socorrer no dinheiro, ele não podia abraçar barras de ouro de noite, ele não podia usar barras de ouro para ter companhia, ou para ser amado, nada, todos fugiam dele. Então, ele tinha tomado refúgio na coisa errada.
Mas, se nós prestarmos atenção, existem pessoas que tomam refúgio em outras pessoas. Porque aquele é o meu amor, então o meu amor é tudo, então ele desesperadamente pensa naquele amor como seu refúgio na vida. Ele torna-se tão ciumento, tão possessivo, tão insistente, que seu o outro não suporta. A pessoa amada não aguenta aquela pressão, aquela exigência de atenção constante, ou um ciúme terrível que a cada momento cria atritos por causa de suas exigências. Então ele tomou refúgio em outra pessoa. E podemos infinitamente achar exemplos desse tipo: de tomar refúgio em coisas inconstantes, impermanentes da vida, ou que não são fonte de refúgio real.
[CONTINUA]
Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como superar o apego”, do canal Sobre Budismo, em 28 de junho de 2022.
