(continuação)
Pergunta: O kenshô ( experiência mística) pode vir de uma forte emoção?
Monge Gensho: Não, ele normalmente tem que vir de um momento de calma, de esvaziamento, não de uma emoção forte. É diferente de uma paixão, por exemplo. Você se sente muito eufórico, muito feliz, quando está apaixonado. Muda sua química cerebral, mudam hormônios, e aquele momento em que você descobre o amor, é um momento maravilhoso, mas você sabe que ele passa, e é físico, é muito feliz, muito euforizante, mas vai passar. Para quem conhece, sabe que vai passar, que é pura ilusão.
Pergunta: Então o kensho é um pequeno momento sem ego?
Monge Gensho: Uma boa explicação é o termo experiência mística. Realmente não tem ego, existe uma sensação de unidade e quando você pensa “eu”… pronto, perdeu. Na primeira consideração, o primeiro pensamento o kensho se esvanece. No pensamento de contar sua experiência, pronto, já se foi. “Não posso perder essa sensação”, mas ela se foi. É frágil e não muda sua vida. Você continua o mesmo, só tem a memória da experiência. Na realidade é um momento de iluminação. Só que você não é proprietário dele. Assim como veio, foi. Enquanto que no satori (iluminação), você pode recuperar essa sensação a qualquer instante. Você é proprietário.
As drogas dão sensação que dura um tempo limitado e a pessoa não é proprietária dela e ainda tem inúmeros problemas associados, como o vício. Mas você não pode mais se libertar. É o oposto do que estamos falando. Estamos falando de libertação. Nós podemos até dizer que as pessoas que têm algum tipo de experiência no zen sentem uma espécie de vício no zazen. É tão bom o que você começa a obter que você não pode mais parar de praticar. Se parar, você se sente entristecido. Mas isso dá trabalho, você tem que sentar, não é como tomar uma droga. Então é bem diferente. O budismo é taxativo em suas regras no Vinaya (texto das regras monásticas) “Não tome nada que altera a consciência”.