Não se voa com uma asa só

Não se voa com uma asa só

 (continuação)
Uma vez eu encontrei um homem que me disse ser muito interessado no budismo. Ele abriu a sua pasta e, lá, havia cinco livros budistas. Era um professor de universidade, e logo me falou que tinha uma biblioteca com 200 livros sonbre o Dharma. Eu disse: “Magnífico. Eu tenho só uns 30 lá em casa”. Nós íamos viajar de avião, estávamos numa sala aguardando o embarque, e ele me disse que tinha muito problema em voar. “É porque não pode fumar, e eu preciso!”, me contou. “Eu não posso fazer viagens longas e ficar sem fumar o meu cigarro, me dá um desespero”. Então eu falei que ele teria que fazer meditação, e ele disse que não poderia meditar, pois não pode [ao mesmo tempo] fumar. Então não tem solução para ele. Ele sabe muito, mas não pratica nada. E isso é a mesma coisa de alguém dizer “eu sei muito sobre natação”, eu li muitos manuais sobre natação. “Mas o senhor já entrou numa piscina?”. “Não, não. Eu tenho medo d’água”.
Então esta pessoa não sabe sobre natação, ela sabe sobre os manuais. A mesma coisa acontece no budismo, e por isso não adianta elaborar teoricamente demais.  Assim como estudar arte é interessante, saber é interessante. Mas não me diga que sabe música porque você leu uma enciclopédia sobre o assunto, mas se lhe derem um instrumento você não toca. Você tem que usar o conhecimento “e” praticar. Só com essas duas asas é que você consegue voar. Não se consegue voar com uma asa só.
Por isso é tão importante nós sentarmos em zazen. Quando nós sentamos é que nós vemos os problemas reais. Nesse processo, vocês conseguem ficar parados? Conseguem aquietar o corpo? Conseguem respirar? A mente não para? É isto que está ocorrendo? Se sim, então precisa de uma prática mais intensa. Nos mosteiros, por exemplo, nós começamos a meditação todos os dias de madrugada. Nos levantamos às 4h, às 4h20 temos que estar na sala (zendô), e daí fazemos 1h30 de meditação, sendo 40’ de zazen (sentados) 10’ de kinhin (meditação andando) e mais 40’ de zazen em seguida. Só a partir daí é que começa o dia. Depois vem cerimônia, café da manhã e depois vem o trabalho (samu). O dia tem que começar assim, e  o dia termina assim também.
(continua com perguntas)