(…) Se existe uma prática como a de Buddha, que era meditar e com ela ele conseguiu esclarecer sua mente, nós também podemos fazer isso, porque nossos corpos são os mesmos e esta é a proposição básica de Dōgen. Existe uma prática que pode ser realizada agora e as ideias de decadência são as ideias que pululam em volta, mas nós não precisamos nos fixar nelas e podemos retornar à prática original.
Dōgen começou então a escrever numerosos textos, pautas para estudo do caminho em chinês e instrução para o Tenzo e o Repositório do Verdadeiro Olho do Dharma. Foram feitas também transcrições de palestras informais de Dōgen para seus monges.
No ano de 1241, o Ekan do monastério de Hojaku, da província de Echizen, que fora co-discípulo de Ejo, tornou-se discípulo de Dōgen.; 4 outros monges que haviam estudado com Ekan também se juntaram à comunidade de Dōgen e o ano de 1242 foi uma época prolífica onde ele escreveu 17 fascículos do Repositório do Verdadeiro Olho do Dharma.]
Por causa das perseguições, Dōgen se muda para Echizen, um lugar de invernos severamente frios, situado a nordeste de Kyoto, no mar do Japão, e lá então foi criado o monastério de Eiheiji. Em 1249, Dōgen escreveu um poema para seu retrato, como é costume para um mestre zen, essa pintura agora é conhecida como: Retrato de Dōgen Contemplando a Lua.
“Espírito de frescor e clareza cobre o velho da montanha neste outono
Um burro olha espantado para o teto celeste
A resplandecente lua branca vagueia
Nada se aproxima
Nada mais se inclui
Flutuante deixo-me ir
Pleno de mingau
Pleno de arroz
Vivamente agitado da cabeça aos pés
Céu acima, céu abaixo
Eu, enevoado
Origem da água.”
Em 1253, Dōgen faleceu. O interessante é que ele refere-se a si mesmo como o velho da montanha. Naquele tempo 50 anos já era uma idade avançada.
Vamos abrir um texto de Dōgen para termos uma ideia de como ele escrevia. Ele conta muitas histórias, referências, de modo que o livro mesmo tem muitos esclarecimentos sobre o texto. Um dos tradutores de Dōgen, Okamura Roshi, com quem tive aulas em Yokoji, nos EUA, preparou as traduções de Dōgen e mais ou menos metade das traduções são notas de rodapé, porque é realmente difícil você ler textos de outra cultura sem as referências, é como se você lesse um texto brasileiro com referências a Saci Pererê, Macunaíma e coisas assim. Se você não explicar, não se saberá do que estava falando. (Continua…)
Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Florianópolis, 2019.