Mestre Dôgen | Monge Genshô (Parte 5)

Mestre Dôgen | Monge Genshô (Parte 5)

(…) Era isso que Rujing queria dizer, também negava a definição de um ensinamento zen largamente difundido que era uma transmissão separada, fora das escrituras; ele dizia que o Grande Caminho não diz respeito ao interior ou ao exterior.

Myozen, que tinha viajado junto com Dōgen, logo depois que eles chegaram, morreu. Dōgen continuou a participar do rigoroso programa de treinamento zen, no monastério de Rujing, no qual ele ensinava que estudar o zen é abandonar corpo e mente e que os estudantes não deveriam se comprometer com outras práticas, tais como: recitar o nome de Buddha, entoar sutras ou manter ritos. Ele ensinava um método de meditação agora conhecido como shikantaza, uma meditação de postura sentada, de mente única, simples, em que não se tenta resolver questões ou atingir coisa alguma. Shikantaza é apenas sentar-se.

Em 1227, Dōgen recebeu dele o documento de herança que certificava Penetração Direta da Realização, assim Dōgen, em suas próprias palavras: “completou seus estudos de vida da grande matéria”. Nos seus escritos completos posteriores há apenas uma referência concisa ao momento da sua percepção: “Fui capaz de estabelecer essa transmissão face a face, abandonando corpo e mente e estabeleci essa transmissão no Japão”.

Então aprendendo isso com Rujing, Dōgen retorna ao Japão em 1227. Significa que ele ficou com Rujing, no monastério de Tiantong durante dois anos. Ele voltou para o Japão e escreveu uma proclamação em chinês, intitulada: “Ampla Recomendação do Zazen”. Esse trabalho deixou clara sua intenção de se concentrar no ensino da meditação zen, em vez de uma prática mista, tal como Eisai havia ensinado.

A comunidade Tendai prosseguiu seus esforços para suprimir formas de prática única do budismo, tais como das escolas zen e essa campanha levou à profanação da escola zen e da terra pura também, além da profanação do túmulo de Honen, mestre-líder da terra pura e também obrigou Dōgen a mudar-se da cidade de Kyoto para um de seus subúrbios, Fukakusa, em 1230.

Ele escreveu: “Voltei ao Japão, com a esperança de difundir o ensinamento e salvar os seres sencientes, um pesado fardo sobre meus ombros, no entanto deixarei de lado a intenção de fazer prevalecer o ensinamento em todo lugar até a ocorrência de uma maré cheia. Penso em vagar como uma nuvem ou uma planta aquática, estudando o vento dos antigos sábios”.

Mais adiante ele argumenta contra aquela visão comum de o budismo poder ser dividido em períodos (verdadeiro Dharma, Dharma imitativo e Dharma decadente). E insiste que todas as pessoas podem atingir o caminho, independentemente da era em que nascem, que é exatamente o que nós nos propomos agora também. Não importa o tempo, se Buddha realizou, nós também podemos realizar. (Continua…)

Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Florianópolis, 2019.