Liberdade | Monge Genshô

Liberdade | Monge Genshô

Nossa instrução de zazen diz que devemos estar sentados eretos e que é importante a posição de nossa coluna, porque ela permite relaxar quase todos os músculos do corpo e permanecer longo tempo como uma estátua.

Nossos olhos, semicerrados, olhando para baixo, querem dizer também que queremos estar conscientes de que estamos no mundo. Estamos no mundo, mas não somos o mundo, não pertencemos a ele, pertencemos a algo muito maior. O grande universo, tão imenso que é difícil de entendê-lo.

Estamos numa galáxia com 100 mil anos luz de diâmetro e bilhões de estrelas. Há 120 anos afastam-se de nós na velocidade da luz nossas emissões de rádio, elas mal atingiram um milésimo de toda a via láctea. Isso significa que nossa própria galáxia tem 0,1% de chance de saber da nossa existência. 

Galáxias no universo estimam-se em 2 trilhões espalhadas para todos os lados, a partir de onde estamos para qualquer lado que olhemos no limite do observável vemos 13,8 bilhões de anos luz. 

Não sabemos se há espaço, se há mais galáxias, onde termina. Este universo inimaginavelmente imenso é nosso lar e nele estamos perdidos em um canto qualquer e criamos as ilusões de que somos importantes, relevantes, criamos mitos de que ele foi criado para nós, isso é completamente sem sentido.

Mas nós somos conscientes dele e isso faz enorme diferença, nós sabemos estas coisas agora. Na verdade só ficamos sabendo de outras galáxias a partir de 1930, antes não tínhamos consciência disso. Nesses tempos, esses últimos anos da história da humanidade, de repente nos demos conta da nossa pequenez, da nossa insignificância.

No entanto aqui estamos sentados e o universo inteiro como que gira em torno de nós. Somos ao mesmo tempo muito, muito pequenos e simultaneamente conscientes a ponto de fazer surgir tudo com nossa consciência.

Ter presente ao mesmo tempo nossa consciência e a nossa insignificância é um segredo para nossa própria liberdade. Tudo que nos parece relevante, nas nossas pequenas vidas perdidas neste canto do universo, pode parecer importante para nós mas em termos universais não é.

Podemos então abrir os olhos, com grande alegria e, não importa o que aconteça, o privilégio de estar consciente nos transforma em deuses. Se sentirmos isso entramos no reino dos deuses. Se nos acharmos importantes, grandes, caímos em profunda ignorância..

O segredo da nossa alegria e liberdade em estar vivos é essa simultânea visão: consciência e insignificância. 

Por outro lado sabermos da continuidade de todas as coisas e de que o universo nada esquece, porque a energia não pode ser destruída, apenas transformada, nos dá uma conexão com algo muito grande: a própria eternidade.

Teisho matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, setembro de 2020.