A história do budismo é uma história de renascimentos doutrinários. Porque é difícil, mesmo dentro do budismo e dentro da prática dos monges nós encontrarmos bons mestres. É difícil.
Quando Bodhidharma, no ano 600 d.C., chega à China, ele encontra um budismo que já não é aquilo que nós estamos falando aqui. O diálogo dele com o imperador Wu mostra isso claramente. O imperador se considerava budista, um grande budista, um patrocinador do budismo. Ele manda vir aquele mestre que veio da Índia e a primeira pergunta que o imperador Wu faz é: “eu construí muitos templos e mosteiros para o budismo. Que méritos eu acumulei nos céus por causa disso?”. Ele queria trono. Então Bodhidharma, que era um mestre zen, responde “Mérito nenhum, majestade”. O imperador faz outra pergunta: “Então qual é a grande verdade da sagrada doutrina?” E Bodhidharma responde: “vazio ilimitado”. Na realidade ele está dizendo Anatta, nenhuma coisa tem um eu inerente; todas as coisas são vazias de uma identidade própria; todas estão interconectadas; todas são interdependentes. Não existe isso de “eu sou separado”, essa ilusão que nós sentimos de separação. Nós somos o Tudo.
E Bodhidharma responde isso para o imperador, que não entende essa resposta. “Vazio ilimitado é a grande verdade. E não há nada que possa ser chamado de sagrado”, Bodhidharma responde. E o imperador não entende, se irrita e pergunta: “então quem é que eu tenho na minha frente?”, e Bodhidharma responde: “não faço a menor ideia”, vira as costas e vai embora.
Depois disso o imperador escreve um poema, manda procurá-lo, mas não o encontra mais – “Eu o vi sem ver”. Bodhidharma não aceita nenhum aluno durante 9 anos. As pessoas vão procurá-lo e ele não aceita ninguém. Ele só aceita Taiso Eka, que tem a coragem de cortar o braço para pedir para ser aluno. Nós vamos fazer essa tradição aqui [risos].
[Trecho extraído de palestra proferida em Florianópolis, 23/08/2016, por Meihô Genshô Sensei]