Como lidar com as pressões da vida? - Parte 1 | Monge Genshō

Como lidar com as pressões da vida? - Parte 1 | Monge Genshō

É muito interessante porque, afinal, a maioria das pessoas sente a vida como uma espécie de jogo em que elas estão competindo. Estão tentando chegar a algum lugar. Ah, estão tentando ser vitoriosos, não é? E muitas vezes nós vemos livros e, palestras, e mesmo gurus, coaches e o que mais aparece defendendo ideias de sucesso, vitória, sempre com esse linguajar de sermos bem-sucedidos ou nos tornarmos milionários, ou ter uma mente milionária, ou galgar altos postos subindo sobre a pirâmide. Subindo esta pirâmide de degraus formados pelos corpos das pessoas a quem derrotaram porque se você quiser ser vitorioso, isso significa que você vai ter uma vitória contra outros competidores. Você vai ser o indivíduo de sucesso na frente daqueles que fracassaram.
Essa ideologia é muito forte nos Estados Unidos onde o maior insulto que se pode fazer a alguém é chamá-lo de “looser”, de perdedor. E isso vemos nos filmes frequentemente. Você é um perdedor, você é um fracassado, como se fosse a pior das coisas. É a característica dos jogos, de tudo isso, também fica demonstrado pelo fato de tantos dos grandes vitoriosos no mundo americano serem pessoas que já faliram várias vezes, já fracassaram muitas vezes na sua vida. Mas depois são coroados com o título de ser bem sucedidos, ser vitoriosos. Do ponto de vista budista, esse é um engano que provém do fato de acreditarmos tanto na individualidade. Acreditarmos tanto no indivíduo contra o resto da sociedade.
Vejam, quantas vezes nos filmes o indivíduo é um rebelde que se contrapõe a todos os outros, todos são contra ele, e ele, o rebelde, acaba vitorioso no fim. Aquele indivíduo se coroa como o ser superior, aquele que vence, o super-herói com poderes miraculosos. Esse herói na nossa sociedade enfatiza o fato de que estamos mergulhados num jogo e que é importante ganhar. Do ponto de vista budista, essa é uma boa maneira de sofrer porque se pensamos no indivíduo e não pensamos no coletivo e não pensamos compassivamente, solidariamente com todo o resto dos seres, nós nos deixamos soterrar por um egoísmo avassalador que nos arrasta a condição de jogar jogos, de ganhar e perder.
Para que nós consigamos lidar bem com as pressões da vida, nós temos que compreender: aceitei um determinado jogo e esse jogo vai me levar à vitórias ou derrotas. Mas se eu compreender que ele é só um jogo, apenas um jogo, acabado este todas as peças voltam para dentro da caixa e o tabuleiro fica vazio de novo. Nós damos valor demais a seguir as regras de um determinado jogo, entramos nele e nos sentimos ganhadores ou perdedores porque achamos que essas são as únicas regras que existem. Na verdade, se compreendermos que se trata apenas de jogos, e que múltiplas regras são possíveis e múltiplos jogos são possíveis, ganhar ou perder no jogo não tem importância, porque as peças voltam para a caixa, e o tabuleiro fica vazio.

[CONTINUA]


Resposta proferida por Genshō Rōshi na live nº81, do canal Sobre Budismo, durante o ano de 2022.