Bem e Mal | Monge Genshô

Bem e Mal | Monge Genshô

Pergunta: Se tudo é ilusão, então o sofrimento, o mal e o bem também são? Será que existe realmente o mal e o bem?

Monge Genshō: Não, o mal e o bem só existem como opostos. Você só pode identificar o bem se você acreditar no mal. Você só pode identificar o mal se você acreditar no bem, esse é um pensamento dualista.

Na verdade, é como dizer que as pessoas são boas ou ruins. Aqui nessa sala, não tem ninguém inteiramente bom, mas também não tem ninguém inteiramente ruim. Não tem. Isso só existe na mente, assim como o mal e o bem só existem na mente.

Todas as pessoas que eu conheço são mais ou menos, eu inclusive, todos somos mais ou menos. Alguém acha que é inteiramente bom? Ninguém é. Se você pergunta honestamente, ninguém é. Então, como você pode dizer que existe bem ou mal? Não existe branco e preto, só cinza, cinza muito escuro, cinza muito claro, mas ainda não é branco, nem preto. O pensamento dual é muito forte para nós, porque nós somos educados a pensar numa linguagem que é toda plena de dualidade, tudo é certo ou errado, bom ou ruim, etc. Tudo é olhado dessa forma, mas no treinamento do zen os monges são desafiados todo o tempo a abandonar esses conceitos.

Quando eu estava em Yoko-Ji, a cozinha era vegana, o cozinheiro era um galês vegano radical, comia comida vegana todo dia. E depois, de 45 dias vivendo lá, então o mestre disse, hoje vamos ter uma festa e quando chegamos na festa tinha vinho, presunto na mesa, tudo que seria absurdo ter num mosteiro. Todo mundo nunca podia cantar, rir, fazer piadas, etc. Então, naquela noite ficamos até mais tarde, todos bebendo e comendo. Akiba Roshi disse: “bom, eu fui até a frente de Buda e pedi desculpas para ele e para os mestres do passado pela festa que a gente fez e como todos beberam, cantaram e ficaram alegres até mais tarde, amanhã a gente não precisa acordar às 4 horas da manhã para fazer zazen, vamos acordar às 5 horas”. Claro que no outro dia estava todo mundo cansado. Mas no treinamento zen isso acontece, você pode sair para mendigar e receber comida e você não pode dizer não para nada. Tem a história de um mestre que estava mendigando e quando um leproso o serviu, o polegar dele que estava apodrecendo caiu dentro da tigela, então o mestre comeu sem pestanejar. Então, é considerado um grande mestre, porque na mente dele não tinha nenhum pensamento de certo, errado, bom, ruim, gosto, não gosto, aceito, não aceito. Era só “hai!”.