(texto) “Está claro que uma identificação espiritual profunda com todas as coisas da natureza é precisamente o que caracteriza a exteriorização do interior. “No domínio mais ilimitado, prazer estético, essa espécie de identificação é normalmente vivida quando, por exemplo, se escuta intensamente uma bela música. Música tão profundamente escutada que já não a escutamos, posto que nós mesmos somos música enquanto dura”. Esse é um poema de Eliot. Tal como observa o professor Willian Johnson “esse intenso momento tão característico, a musica escutada tão profundamente que já não existe uma pessoa determinada que escuta nem música escutada, já não há um eu oposto a musica, existe simplesmente música, sem sujeito nem objeto. Em outras palavras, o universo inteiro esta pleno de música, é música, nesse estado espiritual de unificação absoluta que é, psicologicamente falando, uma espécie de inconsciência, implica o total desaparecimento da música como também o total desaparecimento do eu.” O que aqui se aplicou é algo absurdamente indiferenciado e indivisível, uma pura consciência sem sujeito nem objeto. Para que haja experiência de iluminação, o ser humano deve despertar essa consciência pura. O algo absurdamente indivisível se divide em eu , e por exemplo, flor.”
(comentário)Vamos prestar atenção que isso é uma experiência, mas não é realmente iluminação. Tornar-se um não é o final.
(texto)” E nesse preciso instante dessa divisão, a flor emerge de modo súbito como flor absoluta. É uma flor que se abre em uma atmosfera espiritual essencialmente diferente daquela em se abre uma flor comum ,e no entanto, ambas são uma só e única flor. Nada pode apresentar melhor e de modo mais típico o processo de instauração dessa visão Zen do mundo que as reflexões do Mestre Thing Yo. “Faz trinta anos antes que esse velho monge, quer dizer eu mesmo, começou a praticar o Zen. Eu contemplava uma montanha com se fosse uma montanha e um rio como se fosse um rio. Depois tive a sorte de encontrar mestres iluminados e pude, sob sua direção, alcançar certo grau de despertar. Em tal estado quando contemplava uma montanha, já não era uma montanha, e quando via um rio, já não se tratava de um rio. Agora me encontro num estado de quietude última, igualmente a meus primeiros anos, vejo uma montanha simplesmente como uma montanha e um rio como um rio”. Examinemos agora o processo inverso, quer dizer, interiorização do exterior, no qual o mundo da natureza, chamado mundo exterior, se interioriza e se põe enquanto paisagem interior.”
(comentário) O mais interessante disto, é que é tema recorrente entre os mestres Zen. Nós já estudamos um texto semelhante, com outro tipo de abordagem. Quanto mais lemos sobre isso, mais nos clarifica. Hoje vejo muitas pessoas perguntarem : – O que que eu posso obter com a meditação, posso ficar mais tranqüilo? – a resposta é sim. Mas isso não quer dizer nada sobre o Zen. É um subproduto da prática meditativa e que pode ser obtida em muitas diferentes metodologias meditativas. Esse não é um objetivo do Zen. O objetivo de nossa prática aqui e agora, é uma realização espiritual. Que, tranqüilidade e serenidade são um primeiro passo para isso, é certo. Acalmar-se é um primeiro passo necessário? Sim. Prestem atenção nos seus corpos também. Eles doem quando ficamos sentados muito tempo, e por que existe sofrimento nos nossos corpos e nas nossas mentes por ficarmos tão parados? Porque não conseguimos alcançar ainda um estado de serenidade. Então nossos corpo e mente protestam, estão profundamente ligados. Então, se protestam é porque tem coisas em nós que estão instáveis, ou que não querem ser eliminados. Acontecem até outros tipos de eventos em nós nos sesshins, embora a alimentação seja correta, embora tudo esteja calmo, há pessoas que ficam doentes, sistema digestivo, ficam com sérios problemas. Há pessoas que vomitam. Poderíamos fazer a interpretação de que a pessoa não quer largar nada, ou quer colocar para fora algo que está dentro e não consegue suportar. Cada dor física tem um significado. Mestres experientes podem dizer muito somente tocando nas costas. Então nesse momento temos uma grande experiência de investigação pessoal. E já que entramos nisso e, provavelmente já nos arrependemos algumas vezes – Que estou fazendo aqui, por que vim para o sesshin? (retiro) – já que entramos, não desistimos enquanto não solucionarmos. É assim que tem que ser, não desistirmos enquanto não solucionarmos. Alguma experiência tem que sair desse sacrifício. Algum insight tem que sair, não pode ser desperdiçado. Então, não sentem viajando, voltem sempre para cá. Insistam em colocar rédeas nesse touro desembestado. Como nos Dez Passos do Boi. Se você conseguir nesse sesshin, ver sua mente, porque ela se esconde o tempo todo de você, já é grande realização. Mas esse tempo é impreciso, alguém pode despertar agora nesse sesshin ou daqui a quinhentas vidas. Não há como medir, vai depender de como você conduz sua vida e como você trabalha seu carma. Se você, através da meditação, mudar seu carma, sua mente, seus impulsos e conseguir ser uma pessoa com outro tipo de impulso, então esse carma produzirá um ser numa situação melhor, por exemplo, onde o Dharma exista desde a infância.