(…) Vi uma frase muito interessante de uma cientista que trabalhava com chipanzés e perguntaram por que ela era vegetariana, e ela disse “porque um dia olhei para o meu prato e vi que ele estava cheio de medo, dor e sofrimento”. Isso é ampliação da consciência.
Se ampliássemos a consciência da humanidade inteira sobraria comida agora, neste instante. Porque a maior parte da comida produzida no Brasil, por exemplo, é usada para ração animal. A taxa de conversão é: para produzir um quilo de carne um animal consome até 36 quilos de ração. A taxa de conversão dos peixes é muitíssimo menor a de frango também. Se ao invés de consumir carne de boi as pessoas consumissem apenas frango ou peixe cairia muito a necessidade de produção de grãos para ração. Agora o assunto não é mais sofrimento e sim sobre lógica de conversão.
Se todas as pessoas fossem vegetarianas, 70% da terra devastada no Brasil seria devolvida para a natureza e com os 30% restante teríamos uma produção enorme de grãos que poderia ser exportada. Então as soluções para tudo estão disponíveis, mas é necessária uma mudança de nível de consciência que, claro, não esperamos. Embora o número de pessoas que evitam carne esteja aumentado incrivelmente no mundo, em comparação de quando eu era criança, mesmo assim não esperamos uma mudança dessas.
800 milhões de pessoas no mundo passam fome hoje, mas a nossa produção de alimentos é mais do que suficiente para alimentar todos, bastava que nós a direcionássemos para os lugares certos. Que não nos déssemos ao luxo de alimentar um animal que leva anos para ficar pronto só para que depois possamos comer o bife. Isso sem considerar todos os outros fatores de compaixão, porque a maioria das pessoas que conheço, se você der uma faca e disser “vá ali e mate o porco para comermos” não vai matar o porco. Come a salsicha, mas finge que não é com ele. Na realidade ele é pouco atingido karmicamente porque a consciência dele é baixa a respeito do acontecimento, ele não vê o sofrimento, não vê a dor.
Bom, fique claro, estou dizendo tudo isso, mas o budismo não tem uma regra que diga para as pessoas não comerem carne. A única coisa que a gente faz é nos eventos não servir carne de modo que você sabe que dá para viver assim. Se eu vivo há 70 anos assim então dá perfeitamente, porque tive o privilégio de ter um pai vegetariano e por isso quando criança eu nem sabia o que os outros comiam. Quando descobri foi um choque.
Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, novembro de 2019 – Concórdia/SC.