Acreditar na sabedoria em si | Monge Genshō

Acreditar na sabedoria em si | Monge Genshō

Monge Butsukei: Sensei, qual a dificuldade mais recorrente de um iniciante no Budismo?
Genshō Rōshi: Talvez a dificuldade mais recorrente seja justamente abandonar as crenças supersticiosas que nos são ensinadas desde que nós nascemos. Em começar a acreditar em si mesmo e nas suas possibilidades em vez de acreditar que existem influências externas a nós, boas ou ruins, que nos ajudam ou atrapalham. Começar a acreditar na sabedoria em si. Nas boas ações em si. É um desafio para a maioria das pessoas que inicia. Não admira que nós vejamos ir para o Budismo as pessoas com melhor instrução, porque à medida que nós estudamos, lemos e apreendemos se instala em nós uma grande dúvida a respeito das crenças que a humanidade acalentou durante esses milhares de anos. Já contabilizamos por volta de dezoito mil divindades. É muita coisa.

Monge Butsukei: A próxima pergunta, o que é ser budista?
Genshō Rōshi: É seguir os ensinamentos de Buda. Mas a palavra Buda quer dizer “aquele que acordou”. O nome dele era Sidarta Gautama. Sidarta Gautama Shakyamuni, da tribo dos Shakyas. Ele se esforçou muito durante anos para se libertar a si mesmo. E daí apresentou um conjunto de ensinamentos muito radical. Tratou de demonstrar que aceitava a igualdade de todos os seres humanos não importa se fossem homens ou mulheres de que raça fossem, de que cor fossem ou quais fossem suas opções. Ele aceitava todos eles e queria que todos fossem iguais. A sociedade do tempo dele na índia não aceitava isso de modo algum porque era dividida em castas. Aliás é dividida até hoje em castas. Embora a constituição não aceite isso, vinte e cinco por cento, por exemplo, dos indianos hoje são da “casta dos intocáveis”.
E aqui na sociedade onde vivemos não há, não temos até hoje uma igualdade perfeita entre homens e mulheres e entre raças. E muito menos por outras diferenças que existem entre as pessoas. Então ser budista é acreditar nos ensinamentos de um homem revolucionário. Ele disse em seu tempo, que não existia, por exemplo, um Deus criador. Se recusou a falar a esse respeito e negou completamente a possibilidade de um criador. Isso é uma coisa que a maioria dos seres humanos hoje não aceita. Então ser budista é ser muito revolucionário. É não aceitar essas crenças nas diferenças entre nós, entre as pessoas, entre os homens e as mulheres, entre as raças ou as nacionalidades. Não aceitar isso.
Acreditar na igualdade na equanimidade entre todos os seres humanos. Em acreditar que o ódio não é vencido pelo ódio, que o ódio só pode ser vencido pelo amor. Leva muito tempo para essas ideias penetrarem na cabeça dos seres humanos. Estamos a dois mil e quinhentos anos da morte de Buda e ainda estamos distantes de atingir esses ideais. Ser budista na verdade é ter um profundo idealismo e considerar inclusive os nossos irmãos animais como seres que merecem o nosso respeito profundo e não agirmos como nós agimos. Com matadouros e com uma porção de atitudes que significam que não prestamos atenção, não ligamos para o sofrimento dos outros.


Resposta proferida por Genshō Rōshi na live sobre “Como ser budista”, do canal Sobre Budismo, durante o ano de 2022.