Um grande calígrafo e pintor japonês, que era monge de outra escola, nasceu em 1718, morreu em 1804. Chamava-se Jiun Sonja Onkô. Ele tem uma caligrafia muito famosa, e, nessa caligrafia, o que está escrito é “nada aí”. É o que você deve ser quando você se senta em zazen. Nada aí. Não tem que ter nada sentado ali, nada pensando: “quando vai terminar?”. Seria melhor você sentar-se no sesshin e pensar: “é para sempre, vou ficar aqui para sempre. Toda a minha vida passada eu esqueci, tudo”. Se você esquecer tudo e estiver só aqui já é uma grande libertação. Domingo, quando acabar o sesshin, você volta para aquela vida.
Uma vez eu tive uma percepção bem interessante no fim de um sesshin de 7 dias. Eu voltei para casa, minha esposa me buscou no aeroporto e dentro do carro eu percebi: essa é a esposa dessa vida, essa cidade é a cidade que eu vivo agora nessa vida, tudo é agora e aqui, mas há pouco não era. Poderia ser outra vida, outra esposa, outra cidade, poderia ser qualquer outra coisa. Tudo isso aqui tem a consistência de um sonho. A vida tem a consistência de um sonho. A diferença verdadeira entre o sonho e a nossa vida aqui é que esse sonho, que é a vida, é muito nítido. A sua vida lá fora era um sonho, mas o sesshin em si, essa vida, essa palestra, estar aqui nessa sala também é um sonho. Na realidade, o que há é que esse sonho é muito nítido. E como é muito nítido, ele é uma coisa que chamamos realidade, mas nem sua vida, nem o sesshin, nem nada, tem mais consistência do que um sonho.
[Trecho extraído de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]