(…) A maior de todas as ilusões e a mais difícil é: “eu estou aqui separado de todos os outros, eu estou aqui e os outros estão lá”. Essa é uma ilusão forte, porque todos os nossos sentidos nos levam a pensar que somos separados. Não conseguimos com facilidade entender que nós e toda a vida na Terra somos interdependentes.
Tirem todas as plantas da Terra, vai faltar oxigênio e não vivemos sem ele cinco minutos. Você não é sozinha(o) ou independente, você não passa de continuidade de seus pais, seus avós, seus bisavós, os genes deles estão em sua pele, sua carne, você é continuidade de antepassados que só em dez gerações dão 1.024 pessoas. Você é uma parte da vida na Terra. Há uma frase Zen que diz: “não somos nós que vivemos, a vida é que nos vive”, mas a ilusão não te permite enxergar assim.
As outras ilusões nós vamos construindo. Quando se pensa: “tem uma divindade tal a quem faço pedidos e me atende”, ou seja, faço uma negociação, rezo e ela me protege, essa é outra ilusão.
Até dentro do budismo usamos ilusões também, a estátua de Buddha é de pedra, madeira, gesso ou qualquer outro material, mas é apenas uma estátua. Usamos essa representação para reverenciar uma ideia, porque as pessoas estão agarradas a isso, mas é necessário mesmo? No fundo não. Se as pessoas não gostassem tanto dessas representações, desses símbolos e de todos os aspectos religiosos que o budismo usa e abusa, não precisaríamos deles. Esses aspectos influenciam a nós monges, porque influenciam aqueles que vêm ouvir. As pessoas só dão valor ao que está sendo dito porque o mestre vem vestido com as roupas de mestre, mas isso não é uma fantasia? É uma fantasia. Porém é útil, tem eficácia simbólica. Mas preste bem atenção: você deveria ser capaz de respeitar o mestre sem que ele usasse uma roupa especial. Como percebemos que isso é muito difícil o budismo ganhou esses aspectos religiosos. (…)
Trecho da palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Goiânia, 20/02/2020.