(continuação palestra Monge Komyo, Goiânia, outubro/2014)
Monge Kômyô: O empenho na prática contemplativa tende a formar e a criar em nossa mente cada vez mais esse acúmulo de energia, de percepção, de consciência, de forma e, cada vez mais durante as nossas vidas em vários momentos, podermos ter a chance de ter descoberto algo a mais. A descoberta que eu tive quando era novo em relação à dor no corpo foi, evidentemente, graças ao fato, apesar de toda a dor nas costas e tudo mais, de que eu conseguia acumular energia e consciência suficientes para, em determinado momento, um acontecimento desencadear uma experiência. E no Zen, esse tipo de situação é muito comum.
É como numa estória Zen, num conto em que um monge conseguiu atingir um estado de plena consciência porque ele estava varrendo a varandinha do eremitério dele e uma pedrinha bateu na vassoura. A pedrinha rolou e bateu no bambu e o barulhinho do bambu, “puc”, “click”. Várias pessoas não entendem, como pôde o barulhinho do bambu fazer uma pessoa atingir um estado de plena consciência. Não é o barulhinho do bambu, é um acumulo de energia de consciência, ao longo de anos e anos de esforço. O barulhinho do bambu foi o gatilho final, como eu mostrei hoje de manhã, grande parte da experiência contemplativa do Zen é sensibilidade para perceber os detalhes. A beleza das experiências às vezes pode ser apenas as cigarras cantando no amanhecer. Às vezes mosquitos voando na minha cara. A mente atenta capta a experiência, qualquer que ela seja. (Fim)