O Sexto Elo - Parte 3 | Monge Genshō

O Sexto Elo - Parte 3 | Monge Genshō

[CONTINUAÇÃO]

Por isso, quando uma pessoa atinge um despertar, há uma mudança em toda a sua percepção. Porque ela olha para o universo particular e sente dentro de si que ele é uma escolha, que é muito limitado. De modo que surge um sentimento que, no início, parece incompreensível. As coisas são iguais, mas está tudo diferente. Vê tudo igual, como sempre; é a mesma coisa, mas é diferente.

Essa é a primeira forma de realização espiritual que ocorre, e ela só ocorre se você tiver trabalhado o suficiente, através do zazen, para atingir uma limpeza na sua mente que lhe permita desconfiar, perceber que, por trás de toda a percepção, existe muito mais.

É interessante que logo depois surge a percepção de que a morte não é o que parece. Porque é como se enxergássemos o fato de que o universo é tão amplo e a nossa percepção tão capaz de abranger outras coisas que não estamos vendo, que a morte desta existência, deste corpo que percebe esta realidade específica, é simplesmente um evento pouco importante, descartável até em termos de existência geral.

Nossa integração e unicidade com o universo abrange, então, todas as coisas, e a morte de um instrumento específico de percepção, que é o nosso corpo, que faz esse Sparśa, esse contato, não é tão relevante assim. A sensação disso produz uma desconsideração do que é a morte como evento, e o medo da morte desaparece nesse instante.

Uma última consideração que me parece bastante interessante nesse aspecto todo: os cientistas, segundo a crença popular, são aqueles que sabem o que é a realidade. No entanto, a verdade é que os cientistas constroem teses ou hipóteses a respeito do universo e querem descrevê-lo com a maior precisão possível. E eles têm sido vitoriosos em fazer descrições cada vez mais acuradas, de forma que suas hipóteses podem ser testadas e, aí, vemos: “Ah… Tal hipótese foi testada e se comprovou verdadeira”. O que nós não entendemos nessa “verdadeira” é que se trata de um ponto de vista, de uma forma de medição, para corroborar uma determinada hipótese.

Passado algum tempo, nós verificamos que algum aspecto da realidade não foi descrito de forma correta, contrariando aquilo que foi concebido antes, e todo o edifício conceitual desaba. E, aí, tem que ser construída uma nova teoria, que, por sua vez, vai procurar as suas corroborações. O que não vemos, então, é que os cientistas são crentes daquela descrição. Eles acreditam que “esta é” a descrição correta. E, felizmente, estão dispostos a deixar o edifício desabar e procurar uma outra descrição mais acurada.

O interessante nesse aspecto todo é que aquilo que nós pensamos — a ciência como verdade por trás de tudo — não é uma concepção verdadeiramente completa. A ciência é sempre uma aproximação. Ela progride através de descrições mais apuradas. Mas, como falei na aula anterior, todo o edifício a respeito da tese do “Big Bang”, que durante muitas décadas nós concebemos como verdadeira, está em contestação agora. Porque as galáxias vistas pelo cientista James Webb a 13,5 bilhões de anos atrás deveriam ser novas, se fosse verdade que o universo começou com um Big Bang. E estamos olhando para elas esse tempo todo… No entanto, elas são velhas.

No momento dessa constatação, todo esse edifício teórico construído e no qual acreditamos durante décadas, e que era considerado a melhor descrição da realidade do universo até agora, torna-se questionável. Nós não sabemos mais e não temos uma teoria no momento que explique coisas tão surpreendentes como galáxias distantes 13,5 bilhões de anos já velhas. Como poderiam ser velhas? Não participaram do Big Bang? Seriam fronteiras de outro universo que está ao lado do nosso? Mais velho que o nosso? Elas não poderiam ser participantes do Big Bang.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em dia 2 de março de 2024.