O que é o despertar para o Budismo? | Monge Genshō

O que é o despertar para o Budismo? | Monge Genshō

Monge Butsukei: Sensei, boa noite para o senhor, boa noite para todos que estão aqui. Nos enviaram essa pergunta Sensei: O que é o despertar para o Budismo que tanto se fala?

Genshō Rōshi: Na verdade, nós deveríamos perceber que as pessoas andam pelo mundo, como se estivessem num sonho. Nós vemos as pessoas nas ruas caminhando, com as cabeças ocupadas com pensamentos, preocupações, alguns até falam sozinhos. E se nós prestarmos atenção em nós mesmos, nossas mentes não param, e nós andamos sem prestar atenção sobre os lugares onde estamos, e passamos por coisas muito bonitas sem jamais vê-las: flores, árvores, o céu, nuvens passando, aquele olhar maravilhado das crianças, desapareceu porque é como se tudo já fosse algo acostumado. E quando uma pessoa está dirigindo seu carro, e nós perguntarmos a ela o que havia no último quilômetro, ela provavelmente não vai se lembrar. Exceto, se fosse um fato excepcional. A pessoa vai dirigindo como se estivesse num transe e percorrendo o caminho a que está acostumado, sem prestar atenção nos fatos que sucedem. Como poderíamos dizer, ele está vivendo no automático. E esse viver no automático, é como viver um sonho. Não estamos despertos, não estamos realmente acordados para a vida. Estamos desperdiçando a vida porque andamos pela vida como se estivéssemos sonhando. A condição essencial para despertar é estar dormindo, não é?
Buda percebeu que estava vivendo uma vida sem sentido, quando ele percebeu que tudo acaba em velhice, doença e morte, como acaba para todos nós. Então, quando ele saiu de seu palácio e foi tentar resolver o problema da vida, ele estava sofrendo aquilo que nós chamamos de angústia existencial: qual é o sentido da vida, por que que eu vivo assim?
Eu me levanto todos os dias, vou trabalhar e ganhar dinheiro, volto. No final do mês pago as contas, no dia seguinte começam a correr as contas de novo. E eu vou trabalhar para pagar, e tenho medo de perder o emprego, ou de perder a renda, ou da inflação comer a minha renda, e eu ter cada vez mais dificuldades. É isso que nós pensamos. A pergunta de Buda é: é esse o sentido da vida? Eu estou vivendo para trabalhar, ganhar dinheiro, pagar as contas etc., e depois envelhecer, adoecer e morrer depois de todas as pessoas terem cuidado das suas próprias vidas, meus filhos terem crescido, ido pra longe, e até quem sabe, esquecido de mim. Não é assim que nós pensamos?
E a pergunta de Buda é: isto é a vida? É esse o sentido de viver? Então ele sai e procura durante 6 anos, desesperadamente, passando de Mestre para Mestre. Praticando jejum, meditação, mortificação, todas as coisas que lhe diziam para fazer para ele tentar entender esse sentido. Quando ele não consegue através dos Mestres e dos ensinamentos, ele senta-se em meditação e diz que não vai se levantar mais se não descobrir isso. E depois de dias sentado ele de repente acorda. Ao ver a estrela da manhã surgir no céu, de madrugada, ele tem um repentino esclarecimento. E esse esclarecimento tem esse ápice nesse despertar, mas que na realidade foi trabalhado durante anos. Esse despertar que muitas vezes no Ocidente chamamos de iluminação, esse despertar é que faz com que ele se torne Buda, o acordado. E ele responde à pergunta quando alguém lhe diz: quem é o senhor? É um profeta? Ele diz: não. É um enviado? Não. É uma divindade? Não. Quem é o senhor, então? E ele disse assim: eu estou acordado, eu sou um homem que acordou. É o que ele tenta dizer, né? E se ele acordou, nós podemos acordar, porque nós temos a condição fundamental para acordar. Porque nós temos a condição fundamental para acordar, estarmos dormindo. Por isso, esse acordar é sair do sonho e perceber que nossa verdadeira natureza é o sentido da vida.


Resposta proferida por Genshō Rōshi, nas lives do Sobre Budismo, em 2022.