A transmissão mente a mente existe | Monge Genshō

A transmissão mente a mente existe | Monge Genshō

[CONTINUAÇÃO]

Pergunta: O senhor poderia explicar como se dá a transmissão mente a mente?

Genshō Sensei: Não sei responder a essa pergunta. O que eu posso dizer é que quando há a transmissão, quando o mestre sente isso, ele pode dizer para o aluno: ah, você tem uma mente como a minha, você pensa como eu, você sente como eu, você tem a minha mente. É isso que eu posso dizer. Como é que se dá essa transmissão? Eu acho que é o assunto do livro que estou acabando agora, estou no 49º capítulo, Crônicas da Transmissão da Luz, chamado Denkōroku, não existe em português, mas vamos publicar esse ano um comentário sobre o Denkōroku, de que estou terminando o rascunho. E que fala extensamente sobre esses momentos da transmissão mente a mente, que podem parecer também caracteristicamente muito obscuros.

Então eu não sei responder a pergunta como se dá transmissão mente a mente. Eu apenas sei que a transmissão mente a mente existe.

Pergunta: Quando o senhor diz que deveríamos evitar rótulos, o quão longe deveríamos levar isso? Deveríamos evitar usar os rótulos apenas? Por exemplo, não se identificar como gremista, ou realmente não ser os rótulos, não torcer para o Grêmio?

Genshō Sensei: É uma pergunta bem interessante, porque vamos supor que um praticante leigo, budista, e alguém que lhe pergunta, você é gremista ou internacional? E ele poderia dar uma resposta, quando eu sou gremista, sou gremista. Quando eu sou Internacional, sou Internacional. Quando eu sou Colorado, sou Colorado.

Me lembro de um consultor famoso, muito conhecido, Marins. O conheci anos atrás, 40 anos atrás, acho. E ele me contou que estava em uma fábrica japonesa e disse para um administrador, os senhores são centralizadores ou descentralizadores? E o executivo japonês respondeu, talvez ele fosse um praticante Zen, quando nós centralizamos, somos centralizadores. Quando nós descentralizamos, somos descentralizadores.

O que significa? Não estou preso a isto. Não estou preso a esse rótulo. No entanto, não vejo mal nenhum em alguém ir para o campo de futebol e torcer lá pelo Grêmio. Inclusive o meu amigo Lama Padma Samten, ele costuma se declarar gremista e fazer brincadeiras a respeito e tudo mais. Mas eu sei perfeitamente que para ele, isso não tem muita importância.

Ao ser um torcedor em um jogo, que mal há em torcer, alegrar-se e tal? Mas se você sair do campo de futebol e estiver triste porque perdeu ou contente porque ganhou, você está preso. Porque se você realmente pode se divertir com uma situação torcendo para cá ou para lá, isto é que é verdadeira liberdade. Se você assumir uma identidade, é mais um rótulo que você colocou em você e mais uma dificuldade para ser livre.

Portanto, todos aqueles que dizem, eu sou isto, eu sou aquilo, eu sou direita ou sou esquerda, que é a moda hoje no Brasil, na verdade, do ponto de vista do Zen, estão errados.

Você não deveria ser isto ou aquilo, você deveria ser alguém que enxerga quando alguém faz uma coisa errada e quando alguém faz uma coisa certa. Quando uma coisa é boa e quando uma coisa é ruim, para a nação, por exemplo. E não se colocar em um time, ou assumir um rótulo, ou colocar qualquer coisa assim, que depois vai fazer com que você entre em conflito com outras pessoas, simplesmente por causa do rótulo. O rótulo não importa.

Quando estávamos fazendo esse Sesshin agora em Florianópolis, uma pessoa que é professora de filosofia do colégio catarinense, que é um colégio jesuíta, e que é formada em teologia, me disse que lhe haviam dito, que os praticantes do retiro budista, quando passam em frente à estátua de Nossa Senhora de Fátima, que tem nos Jardins, faziam uma reverência. E que ela achou isso extremamente bonito.

Ora, isso expressa o que queremos dizer com o nosso treinamento, quando o monge de Chudō, passou na frente da estátua de Nossa Senhora de Fátima e fez uma reverência, ele expressou a nossa reverência a respeito dos símbolos e das estátuas que são reverenciadas pela casa que estava nos recebendo. É assim que deve ser. É isso que devemos fazer. Esse é o exemplo que eu tentei colocar desde o início, porque não estamos carregando rótulos de budistas também.

Porque nós não somos budistas, nem zen-budistas. Nós somos seres universais e compreendendo o que é relativo e o que é absoluto. As pessoas se dividem em igrejas ou em fés porque estão presos em um problema relativo. Nós vemos o absoluto. E é porque vemos o absoluto, por não discriminarmos, é que somos zen-budistas.


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual 29 em junho de 2024.